“BETTER MAN: A HISTÓRIA DE ROBBIE WILLIAMS” – Autenticidade e irreverência
“Eu estou mostrando tudo neste filme, exceto as minhas hemorroidas”: essas foram as palavras de Robbie Williams em uma entrevista ao vivo em uma premiere da sua cinebiografia, BETTER MAN: A HISTÓRIA DE ROBBIE WILLIAMS. O artista não poderia ser mais certeiro nas suas palavras, que, indiretamente descrevem o longa tal qual ele é: autêntico e irreverente.
Antes de se tornar um astro do pop, o britânico Robbie Williams era apenas Robert, um garoto comum que, estimulado pelo pai, sonhava em ser famoso. Sua trajetória, porém, é marcada por dramas que refletiram a maneira desgovernada pela qual ele buscou concretizar o sonho.

O grande diferencial do filme, indubitavelmente, é o retrato de Williams como um macaco (que ele mesmo interpreta, em captação de movimentos). Isso chama a atenção, gera curiosidade e até mesmo estranheza, contudo, a identificação é explicada no início e é facilmente aceita. O macaco é um animal simbolicamente associado à comicidade, um animal travesso e curioso cuja personalidade, enquanto tal, combina com o enérgico biografado. Assim como em outros aspectos, os efeitos visuais do macaco são muito bons, pontuando o amadurecimento biológico e as mudanças no estilo de Williams sem perder algumas de suas características faciais básicas (como o formato das sobrancelhas e do maxilar).
Dirigido por Michael Gracey (de “O rei do show”), estilisticamente, o filme é extravagante, muitas vezes frenético e grandiloquente, associando gêneros como drama, comédia, fantasia e musical – de maneira similar a Baz Luhrmann, porém com mais liberdade criativa. É graças à fantasia que os efeitos visuais transbordam a imaginação do cineasta, criando metáforas imagéticas nada usuais e explorando a subjetividade mental. Com isso, o musical transita entre o intra e o extradiegético, podendo ir de uma cena em formato clássico em que pessoas se unem para cantar e dançar em uma rua a um show real que prossegue com um auto-enfrentamento surreal. Englobando diferentes sucessos da carreira do cantor, a trilha é constantemente articulada com a narrativa tanto em termos de trama quanto de ritmo, como com “She’s the one”, “Feel”, “Something beautiful” e “Angels”. Outra música de destaque é “My way”, cuja fortíssima afinidade sentida por Williams leva a um clímax verdadeiramente tocante.
O roteiro de Gracey, Simon Gleeson e Oliver Cole constitui-se em uma arquitrama comum quando comparado ao de outras cinebiografias de artistas, envolvendo circunstâncias nada extraordinárias (problemas parentais, drogadição, ascensão e queda etc.). Além disso, em geral, os coadjuvantes não são bem trabalhados, sendo em sua maioria ferramentas de roteiro. É o caso, por exemplo, da avó de Williams, que é somente a sua âncora de afeto. No mais, Nicole e Nate têm relevância pontual e a rixa com Liam (da banda Oasis) é muito mal explicada. Entretanto, Steve Pemberton tem em Peter uma figura interessante com traços de vilania, projetando em Williams obsessões próprias de uma maneira perniciosa. Figura central na narrativa, Peter molda o protagonista ao criar conflitos de caráter interpessoal e também internos.
Com base nisso, revela-se que Williams era muito mais frágil do que aparentava ser no início da carreira e atormentado com a “síndrome do impostor”. Ávido pela aprovação paterna, a fama se tornou opção única não por prazer, mas por obrigação, via deturpada que reverberou em suas relações e o fizeram implodir. Ainda que o roteiro se torne um pouco piegas em alguns momentos – como quando a avó fala que o que importa é o coração, não os holofotes -, o filme consegue emocionar e demonstrar que a concretização dos próprios objetivos precisa ocorrer de maneira saudável, sob pena de ruir o que se almeja.
Antes mesmo da ideia do filme, o diretor entrevistou Williams, e suas declarações foram posteriormente usadas no longa em voice over. Isso deu às falas um tom informal, pessoal e muito honesto, o que ditou a própria atmosfera da obra. É com base nelas que o biografado faz piadas sobre seu primeiro agente e sobre seu desempenho escolar, atribuindo ao seu histórico uma visão sem filtros sobre seus altos e baixos, ainda que em perspectiva subjetiva. Isto é, a subjetividade inerente às entrevistas falando sobre si catapultam o viés histriônico da produção, que não tem receio de ser exagerada porque é, antes de tudo, sincera e divertida.


Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.