“WANDAVISION” [1×09] – Wanda
WANDAVISION sempre foi sobre Wanda. Parte do público até pode ter esperado referências anteriores ao universo Marvel, indicações do futuro do MCU no cinema e no mundo das séries ou uma história de ação de super-heróis com sequências dinâmicas. No entanto, a produção disponível na Disney+ jamais criou expectativas do que não seria nem contrariou as escolhas estilísticas e dramatúrgicas apontadas desde o princípio. Tudo sempre foi sobre a heroína.
Observando em retrospecto o que foram os nove episódios, a narrativa acompanhou o processo de luto de uma mulher sob diferentes matizes. Wanda Maximoff perdeu tudo aquilo que definia sua estrutura emocional de forma trágica: pais, irmão e o amor de sua vida. Por consequência, ela libera seus poderes (sem compreendê-los tão bem) e reescreve a realidade de Westview para trazer Visão de volta e formar com ele uma família. A partir daí, sua trajetória envolve distintas sensações (gêneros), típicas de quem atravessa perdas tão duras: o drama resultante do sofrimento de se ver separada de quem ama; o humor como válvula de escape evocado por um mundo que deveria confortá-lo; e a ação desencadeada por todo novo perigo que a ameaça e resgata os traumas das mortes.
No último capítulo, a ação ocupa mais espaço e se torna o estilo mais chamativo do encerramento. A protagonista está rodeada por inúmeros riscos, como a bruxa Agatha, o agente Hayward e uma nova versão do Visão sob o controle da S.W.O.R.D. Ao longo de boa parte da narrativa, são oferecidos momentos característicos de confrontos de super-heróis naquela escala grandiosa encontrada em desfechos de tramas do subgênero, embora tais elementos sejam convencionais, repetitivos ou estéreis. Os efeitos visuais são excessivamente empregados em uma ambientação artificial; os confrontos sempre trazem personagens voando e planando no céu; e certos personagens chegam no momento exato para salvar outros.
À exceção da resolução do confronto entre as duas versões de Visão (o fim da luta envolve a demonstração à risca da lógica filosófica do personagem), o episódio é mais expressivo quando a ação abre espaço para os conflitos dramáticos da protagonista. Por exemplo, os riscos criados por Agatha a partir dos moradores da cidade controlados por Wanda são ainda maiores, pois colocam a heroína em um dilema sobre fazer o certo ou manter a família por perto; mais adiante, a luta entre Wanda e Agatha se transforma em uma luta pessoal da protagonista para conquistar sua capacidade de escrever a própria história. Cabe, então, a Elizabeth Olsen explorar as possibilidades dramáticas da personagem, tanto em relação aos momentos de declínio emocional quanto em relação às situações de fortalecimento interior.
Por sinal, não é simplesmente a ação pela ação que proporciona os pontos mais poderosos de “O grande final“. O desenvolvimento em direção ao drama reforça como a série se sai melhor quando experimenta outras sensações e gêneros, demonstrando que a trajetória do luto e do reencontro de um indivíduo com si próprio apresentam matizes variadas. É assim que o impacto de ver os moradores da cidade desejarem recuperar sua liberdade se torna intenso a ponto de afetar o público e a protagonista. Nesse mesmo sentido, o eventual triunfo de Wanda sobre seus antagonistas não a salva de ter que enfrentar seus próprios sacrifícios pessoais – tais sequências são as mais significativas por ampliar os significados dos últimos diálogos da série entre Wanda, Visão, Billy e Tommy.
Consequentemente, “WandaVision” é uma produção interessada no desenvolvimento de sua personagem central. Após os acontecimentos da fase mais recente do MCU, Wanda percorre duas trajetórias: a da heroína que se questiona sobre seus poderes e os desdobramentos de sua própria vida a partir de tantas habilidades ainda a serem descobertas e entendidas; e a da mulher que enfrenta o luto e precisa encontrar meios de se reerguer graças à sua própria força pessoal (que pode carregar as memórias e os sentimentos daqueles que não fazem mais parte de seu convívio direto). Por isso, qualquer mínima referência feita pelo episódio a especulações sobre futuras produções da Marvel enfraquece a obra; já toda representação dos aspectos emocionais de Wanda torna a série mais cativante. Enfim, tudo sempre foi sobre Wanda.
Um resultado de todos os filmes que já viu.