“WANDAVISION” [1×06] – Preparação do terreno
Há alguns capítulos, WANDAVISION se definiu como uma série que combina estilos e narrativas nem sempre tão usuais: uma história de super-heróis se constrói sob uma comédia muito específicas e parte de uma premissa dramática sólida; os núcleos dentro e fora de Westview transitam entre realidades fabricadas e um universo real. Em “Um Halloween assustadoramente inédito“, a articulação entre segmentos distintos ajuda a preparar os eventos futuros da trama, ainda que para o episódio em si o resultado seja parcialmente deslocado.
Dentro do mundo reescrito por Wanda, a dinâmica dessa vez se assemelha a uma sitcom dos anos 1990 em termos visuais e dramatúrgicos. O tempo passou fantasiosamente rápido para os protagonistas e o casal de heróis agora se prepara para a noite de Halloween com seus filhos e o irmão de Wanda, Pietro. Após algumas oscilações em capítulos anteriores, o tom de comédia televisiva volta a ser aprimorado. O humor e a inocência divertida aparecem em cada momento que os gêmeos Billy e Tommy interagem com Pietro, por conta da espontaneidade de Julian Hilliard e Jett Klyne e do timing cômico de Evan Peters. Além disso, as piadas envolvendo aspectos típicos da festividade e a quebra da quarta parede potencializam o dinamismo dos acontecimentos.
Enquanto o roteiro se desenvolve nesses moldes, o diretor Matt Shakman expõe as fissuras que podem haver dentro de universos tão heterogêneos que se entrelaçam. Pietro é um exemplo expressivo de como o controle exercido por Wanda sobre a cidade não é tão perfeito, afinal a escalação Evan Peters para viver o personagem antes interpretado por Aaron Taylor-Johnson pela Marvel simboliza o descompasso que a figura traz. Em parte, o efeito é humorístico, já em outras cenas, as diferenças de memórias e sentimentos entre ele e a irmã sugerem algum conflito mais dramático que pode colocar em risco as pretensões de Wanda de viver em paz com sua família.
Além de Pietro, a presença de Visão nesse episódio também evoca aas limitações dos planos de Wanda. Ao invés de se manter conformado (como acontece com os personagens coadjuvantes que aceitam o controle da heroína sobre o local e a naturalidade do uso dos poderes abertamente sem maiores receios), o herói procura seu próprio espaço sozinho para tentar entender que vida estava levando em Westview e como poderia se libertar daquela situação. Logo, não deixa de ser impactante (e a seu próprio medo aterrador) contemplar os limites da cidade, onde as habilidades de Wanda não estão tão poderosas e os indivíduos estão congelados. Algo semelhante ocorre com o desejo incontornável de Visão de fazer algo para interromper aquela realidade, apesar dos sacrifícios que precisaria fazer.
Se os fatos relacionados ao sitcom acertam no estilo cômico já usado e na ampliação das fragilidades daquele mundo, o núcleo fora de Westview contribui muito pouco para o impacto do episódio. Por um lado, tudo que acontece em torno dos agentes da S.W.O.R.D parece superficial e menos interessante até a conclusão da narrativa – os desdobramentos reafirmam o que o espectador já sentia em relação a Monica, Darcy e Jimmy Woo, ou seja, o isolamento dos três personagens diante da agência como um todo. Por outro, o desenvolvimento contido desse segmento não deixa de ser uma indicação de que o terreno é preparado para acontecimentos mais intensos no futuro próximo, ao reorganizar as peças e sugerir novos confrontos.
O sexto capítulo de “WandaVision” parece recair em um clássico problema já percebido em outras produções da Marvel: a predisposição de preparar algo que ainda acontecerá, enquanto o momento presente acaba sendo, em parte, menosprezado. Desse modo, fica a sensação de que algo grandioso está por vir nos próximos episódios, que pode afetar as impressões gerais sobre a obra. No entanto, “Um Halloween assustadoramente inédito” fica refém dessa característica recorrente da empresa e se torna um produto partido em um segmento que funciona e outro que soa deslocado.
Um resultado de todos os filmes que já viu.