“WANDAVISION” [1×04] – Dando vários passos para atrás
* Aviso: este texto pode conter spoilers.
O quarto episódio de WANDAVISION tem uma dinâmica diferente dos anteriores. A narrativa dessa vez faz algo que a Marvel já utilizou, por exemplo, em “Homem-Aranha: De volta ao lar“: explorar ao máximo as possibilidades do universo cinematográfico da empresa. As primeiras cenas seguem esse princípio ao abordar momentos de crise após o Blip, quando as pessoas que haviam desaparecido em decorrência do estalar de dedos de Thanos em “Vingadores: Guerra infinita” retornam graças à correção dos eventos de “Vingadores: Ultimato“. Um exemplo evidente dessa nova situação é o reaparecimento abrupto de pacientes e médicos em um hospital na abertura do capítulo.
A nova abordagem se concentra inicialmente em Monica Rambeau, uma agente da S.W.O.R.D que reaparece precisando lidar com a morte inesperada de sua mãe e o hiato temporal daqueles acontecimentos. Através da personagem, é possível conhecer a agência de inteligência e contraterrorismo, subdivisão da S.H.I.E.L.D., dedicada a enfrentar ameaças extraterrestres, além de reconhecer as missões necessárias a serem cumpridas. A partir da investigação do desaparecimento da cidade de Westview e de sua população, sob auxílio do FBI, a narrativa assume novamente o estilo mais convencional de história de super-heróis.
É justamente o retorno de elementos clássicos característicos da Marvel que faz com que a série enfraqueça a originalidade até então apresentada nos episódios prévios. A força tarefa montada para elucidar os fatos em torno dos desaparecimentos de Westview e de Monica gera uma limitação muito grande em termos dramáticos, afinal o capítulo basicamente apenas explica aspectos já vistos anteriormente. A direção e o roteiro simplesmente justificam o aparecimento de um helicóptero de brinquedo no jardim de Wanda e Visão, o surgimento de um apicultor saído do esgoto, a chegada de Geraldine na vizinhança dos protagonistas e a difusão pelo rádio de uma voz chamando por Wanda.
Não que todo o capítulo seja marcado somente por limitações e problemas. Além de abordar as consequências do Blip, ele também fornece bons momentos cômicos em torno do agente do FBI Jimmy Woo e da astrofísica Darcy Lewis, beneficiados pela interação entre Randall Park e Kat Dennings. Nas cenas em que eles estão reunidos (ou ao menos um deles está presente), os personagens se comportam como o público se questionando sobre questões pertinentes (“Visão está vivo?”, “Por que uma sitcom?” e “Por que Wanda e Visão estão viajando por diferentes épocas?”) e assistindo às vidas dos heróis como um programa de TV. Entretanto, é uma pena que esses pontos sejam muito breves e pontuais.
Levando-se em conta as escolhas do quarto capítulo, o sentimento que mais predomina é frustração. E essa sensação reverbera em muitos níveis e por diferentes razões: a trama não avança em direções significativas (na realidade, apenas retorna para incidentes que não precisariam ocupar tanto tempo e de maneira ilustrativa); possíveis progressões da história para a década de 1980 são desperdiçadas ou adiadas (logo um período frutífero para abordar as sitcoms); e o público é tratado como alguém que demanda explicações didáticas demais, como se fosse incapaz de compreender aspectos da trama. Considerando-se tudo isso, o quarto episódio explica como os acontecimentos relacionados a Westview são fruto dos poderes de Wanda para se manter com Visão – algo que os espectadores já imaginavam.
Um resultado de todos os filmes que já viu.