“WANDAVISION” [1×03] – Algo de novo no front
Alguns espectadores que não assistiram a nenhum material promocional de WANDAVISION podem ter se surpreendido com o estilo da série. Contudo, a mesma surpresa não se aplica ao terceiro episódio, responsável por prolongar ainda mais a subversão da obra em comparação com os filmes da Marvel. No mais recente capítulo, Wanda e Visão se preparam para a gravidez incomum da super-heroína, que se desenvolve mais rapidamente que em outros casos tradicionais.
Como o segundo episódio havia se encerrado com a inclusão de cores no quadro, o terceiro já começa com essa mudança na fotografia deixando o preto e branco para trás. Assim, o diretor Matt Shakman continua a evocar a estética das sitcoms estadunidenses, dessa vez criadas na década de 1970, para definir a abordagem da narrativa. Portanto, a cada semana a série salta no tempo e constrói tramas e estilos correspondentes aos anos 50, 60 e 70 – consequentemente, o universo diegético tem um lógica fantasiosa própria marcada por uma temporalidade particular e uma mise en scène evocativa do passado da cultura pop. Cada aspecto sugere que aquele mundo pode ser criado pelos poderes de Wanda, em busca de proteção.
Graças a um universo muito específico, a narrativa pode experimentar sensações e gêneros distintos. De modo imediato, a comédia surge novamente da combinação inusitada entre vida suburbana comum e excepcionalidade do fantástico; mas também das atuações carregadas de Elizabeth Olsen e Paul Bettany, que se integram ao tipo de interpretação sem ambiguidades das sitcoms. Os dois atores ressaltam os gestos e as expressões faciais para potencializar o humor de cada situação típico da gestação e do parto (o nervosismo de uma máquina sem saber lidar com a gravidez e as reações intempestivas provocadas pelas dores da gestação).
Entretanto, as dinâmicas dos personagens também possuem uma carga dramática significativa. Visão suspeita que algo pode estar errado naquela vida perfeita, devido aos comentários dos vizinhos e à gravidez acelerada da esposa. Já Wanda faz de tudo para proteger a realidade em que vivem, como retroceder o tempo e expulsar figuras indesejadas (nas cenas com Geraldine, menções a fatos do universo cinematográfico da Marvel despertam ameaças a serem contidas). Nesse sentido, a alternância na montagem paralela entre conversas de Visão e os vizinhos e de Wanda e Geraldine criam uma noção de perigo que se diferencia do humor ingênuo do restante do episódio.
Por conta disso, o terceiro capítulo de “WandaVision” traz sem pressa mais um elemento que se soma ao universo temático da obra e aborda as possibilidades de trabalhar uma história de super-heróis. As inserções de um mundo à parte que tenta penetrar a realidade criada por Wanda como proteção levanta hipóteses sobre a angústia que pode estar enfrentando com antagonistas ainda desconhecidos. E o desenvolvimento da narrativa com múltiplas dimensões reafirma que a comédia e o drama também podem se combinar à ação para a criação do enredo, propondo uma ideia diferente para os super-heróis.
Um resultado de todos os filmes que já viu.