“UMA QUASE DUPLA” – Quase funciona
O antro das comédias nacionais (com todo devido respeito aos poucos bons trabalhos) acaba de ganhar um novo integrante. UMA QUASE DUPLA é a tentativa tupiniquim de recriar “Dois caras legais” (2016), sendo o “bad cop” uma personagem feminina e ainda com nosso próprio Ryan Gosling caipira. O resultado poderia ser bem pior, mas ainda assim o filme acaba desapontando, devido ao fraco roteiro e às atuações pouco interessantes.
Um assassinato bizarro na pequena cidade de Joinlândia junta o policial local, Claudio (Cauã Reymond), e uma investigadora do Rio de Janeiro especializada em resolver assassinatos: Keyla (Tatá Werneck). Por mais diferentes e incompatíveis que os dois sejam, eles precisam se unir para resolver o caso que vai se tornando cada vez mais assustador.
A direção é de Marcus Baldini, de “Bruna Surfistinha” e “Os homens são de Marte… e é pra lá que eu vou!”. Experiente, de fato, embora não pareça ter imprimido autenticidade aqui. O ritmo do filme é comprometido, sendo algumas vezes lento demais, e em outras demasiadamente rápido. Um ponto positivo é o esquecimento de recursos cafonas na edição que filmes de comédia brasileiros costumam usar. Nesse aspecto, o filme se mostra mais “pé no chão” ao não arriscar demais visualmente, preferindo em todo momento manter a dupla de protagonistas na tela e contar a história.
Leandro Muniz e Ana Reber assinam o roteiro, entregando uma história extremamente batida em termos de filmes policiais. A dinâmica “buddy cop” já foi explorada repetidas vezes no cinema e não é tão fácil quanto parece fácil fazê-la funcionar em um longa de comédia. A tentativa aqui era de encaixar o personagem introvertido e sossegado de Cauã Reymond com a brava e explosiva personagem de Tatá Werneck. Enquanto Tatá parece ter obtido carta branca para usar e abusar do seu estilo humorístico, Cauã aparenta ter caído de paraquedas no personagem.
E não é por falta de talento. Especificamente este filme precisava de timing de humor e uma atuação mais “solta”, menos acuada. Isso faltou para o ator, e muitas das vezes é perceptível a queda na qualidade das cenas quando o humor depende de Cauã. Quem soube explorar bem o gênero e entregou suas linhas com primor foi Daniel Furlan, creditado também como colaborador no roteiro. Nas cenas onde Daniel interage com os dois protagonistas há uma melhora significativa no filme. A capacidade do ator em tirar sacadas rápidas de situações absurdas é o ar que esse filme precisava.
Mesmo brincando com os clichês e criando algumas cenas surpreendentemente eletrizantes, “Uma quase dupla” peca pelo excesso de Tatá Werneck, que satura o roteiro com seu tipo peculiar de humor. A trama, previsível, não encanta e se torna desinteressante ao se revelar aos poucos como apenas mais uma história de parceiros policiais. Uma mudança de ares no cinema de comédia nacional? Sim. Contudo, só uma boa ideia não é suficiente para consolidar um bom filme. No caso deste, faltou uma boa execução. “Uma quase dupla” chega bem perto de ser ok, e é divertido quando as piadas funcionam, mas, sob uma perspectiva abrangente, acaba decepcionando.
Apaixonado por cinema e pela arte de escrever.