“UM BROTO LEGAL” – Quando uma história não parece valer ser contada
Os filmes biográficos de estrelas da música vêm tendo um bom apelo nas últimas duas décadas, desde “Dois filhos de Francisco” até o recente “Bohemian Rhapsody” (clique aqui para ler a nossa crítica), que adaptou a história de uma das maiores bandas de todos os tempos. Então, quando sabemos de mais um filme que vem recontar a história de uma estrela do rock brasileiro, pensamos no que há por vir. Infelizmente, UM BROTO LEGAL não parece trazer nada além de um efeito blasé, quando não constrangedor.
O filme conta a história de ascensão até o fim da carreira de Celly Campello, conhecida como a primeira cantora de rock nacional, famosa por hits de sucesso como “Banho de lua” e “Estúpido cupido”.
Tratando-se de um filme biográfico, sua maior falha com toda certeza está em estabelecer que história quer contar. Em grande parte do longa acompanhamos o personagem Tony Campello, irmão de Celly, e sua jornada para tentar ser cantor na cidade de São Paulo, enquanto precisa trabalhar. Quando o longa avança entendemos que se trata da história dessa estrela que foi a Celly, o problema é que além dela não ser uma personagem interessante, não parece haver nenhum tipo de obstáculo ou jornada que tanto ela quanto o irmão precisam ultrapassar. A falha é de total responsabilidade do diretor e roteirista Luiz Alberto Pereira, que mais parece estar operando por obrigação. A falta de interesse na narrativa que acompanhamos se reflete em um filme que não supera nem sequer um episódio de novela das seis atual. Não há planos inspirados e nem um texto que toque emocionalmente a quem assiste à obra.
A história da cantora mais parece um monte de retalhos colocados de situações que foram noticiadas no período em que o filme se passou (anos 50), em conjunto de cenas que apenas parecem ilustrar a situação. As cenas que ligam uma música a outra são inclusive constrangedoras: há um momento em que Tony Campello descobre qual será o nome artístico de Celly, que na verdade se chamava Célia, há uma tentativa de fazer da cena um lampejo mágico de inspiração que soa vergonhoso tanto pela interpretação como pela falta de apuração na hora de representar visualmente e nos emocionar. O pior de tudo é que, mesmo as cenas das músicas sendo cantadas, elas soam medíocres, não há inspiração nenhuma. Uma reprodução relativamente fiel de como eram as apresentações da época não impede um bom diretor de trazer algum tipo de ar de vida para esses momentos, porém essas cenas são tão esquecíveis quanto o resto do filme.
Os dramas que mais poderiam interessar o público são o fato do irmão que levou Celly para os palcos ficar apenas na sua sombra e o fato dela ter desistido da carreira para se casar e viver com seu futuro marido ou são ignorados, ou simplesmente não são bem trabalhados. Só há dormência, nada realmente é um problema, só pequenos obstáculos que são insignificantes e em nenhum momento representam algum tipo de ameaça para aquela carreira. Quando Celly desiste de trabalhar artisticamente, só sobra apatia, nem ao menos chegamos a acompanhar essa carreira de verdade. A pequena produção do filme atrapalha nessa imersão, não sabemos em que lugares eles foram, e a direção de arte peca em sua artificialidade, tanto os cenários como os figurinos mais parecem fantasias, falta o apuro que tornaria esses ambientes críveis.
A comparação é injusta, porém válida, quando nos lembramos de obras biográficas, pensamos em outra face, em profundidade e em contradição. “Dois Filhos de Francisco”, além de retratar bem a dor presente nos personagens da obra, mostra em suas performances as catarses emocionais que atingem a fundo o coração daqueles que estão acompanhando a jornada. A música é naquele momento não só um lugar onde se descarrega toda a emoção que levou para o lugar a seguir, como é isoladamente um simulacro que demonstra o poder magnânimo da música em tocar aqueles ao seu redor. O cinema de “Dois filhos de Francisco” nos entrega isso em suas performances, enquanto “Um Broto Legal” parece nem tentar. Não importa a história contada, não importam os momentos passados e nem ao menos importam as canções.
Sempre teimando em colocar em palavras, tudo aquilo que só é possível sentir.