“THE ALTO KNIGHTS – MÁFIA E PODER” – Diferentes, mas iguais; iguais, mas diferentes
Assim como os crimes não são iguais, aqueles que os cometem também não são iguais – ao menos não em tudo. Partindo dessa premissa e de uma história real, THE ALTO KNIGHTS – MÁFIA E PODER é um filme de máfia que explora dualidades para demonstrar que mafiosos podem ter perfis muito distintos, mas que também podem ser muito semelhantes, a depender do ponto de vista.
Vito Genovese e Frank Costello são imigrantes italianos que, em meados do século XX, comandaram duas famílias. Amigos desde a infância, em 1957, Vito tenta assassinar Frank, não acreditando que ele, como afirma, deseja se aposentar da vida de mafioso.

O roteiro do longa é escrito por Nicholas Pileggi, responsável por clássicos de máfia como “Os bons companheiros” e “Cassino”. Diante de sua experiência, o texto apresenta elementos comuns no subgênero, como a banalização do homicídio (desde que para fins justificados, dentro da lógica própria desse mundo), a disposição das personagens dentro de uma estrutura típica da criminalidade organizada (incluindo o consiglieri, famosa figura da máfia italiana), que tem seu estatuto próprio, e, é claro, as lutas de poder (que, aqui, serve de justificativa para a trama).
Os diálogos são bem elaborados, muitas vezes utilizando um tom cáustico, o que combina com as personagens, líderes do crime que acreditam ser invulneráveis. Note-se, por exemplo, que, mesmo após a tentativa de assassinato, Frank não se oculta, tampouco porta uma arma. Os diálogos revelam ainda as diferenças entre Frank e Vito: enquanto o primeiro é conciliador e pratica crimes de menor potencial ofensivo – inclusive questionando a utilidade de uma lei, a Lei Seca -, o segundo tem caráter bárbaro, aderindo a crimes mais graves e desrespeitando até mesmo as regras preestabelecidas para os mafiosos (novamente, a invulnerabilidade marca presença). Contudo, existem algumas superfícies de contato entre os dois.
A primeira e mais óbvia é o fato de serem chefes da máfia em Nova Iorque, tendo crescido financeiramente a partir do crime. A segunda é a reação sarcástica e debochada diante do que os desagrada, como ambos demonstram na cena em que Frank presta um depoimento televisionado. Ainda que Frank seja fiel aos seus princípios e adote sempre um tom diplomático, ele não deixa de se portar como acredita que um chefe deva se portar. A terceira e mais curiosa similitude se refere à escolha do diretor Barry Levinson de escalar o mesmo ator, Robert De Niro, para o papel de Vito e de Frank.
Enquanto Frank se assemelha mais ao De Niro visto em outras obras, Vito é uma versão com maquiagem, colocando falhas na pele, ocultando uma verruga e adiantando a ponta do queixo. O ator faz ainda uma distinção vocal entre os dois, fazendo com que Vito tenha um timbre mais agudo, o que combina com a sua personalidade eloquente e combativa. Como se De Niro estivesse frente a um espelho, Frank e Vito são duas faces da mesma moeda, a da máfia, uma metáfora com a qual Levinson afirma que, apesar de diferentes no estilo de vida e no modo de pensar – basta comparar suas esposas, a discreta e preocupada Bobbie (Debra Messing) e a vocal criminosa (tal qual o marido) Anna (Kathrine Narducci) -, não é difícil confundir os dois.
A dualidade ocorre entre as personagens principais (e suas esposas), mas também em escolhas estilísticas do diretor. A trama é narrada em retrospectiva pelo próprio Frank, em dois cenários opostos: um deles é uma sala escura e fechada, em que ele revê fotos antigas a título de recordação do pretérito, o segundo é um ambiente aberto em que ele é filmado em primeiro plano, aproximando-se da quebra da quarta parede. Na primeira parte do filme, aparecem planos em preto e branco de fotografias e vídeos de uma época anterior aos fatos centrais (devem corresponder aproximadamente à época do New Deal), o que faz sentido em termos de criação de uma atmosfera (o mesmo ocorre com a trilha musical) e se conecta à sala escura de Frank, mas causa estranheza pelo abandono na segunda parte. O trabalho do montador Douglas Crise é mais acelerada do que a que se costuma ver em filmes de máfia (os primeiros minutos parecem de um filme de ação), usando intensamente a montagem paralela para estimular o suspense (o clímax, a propósito, é muito bom).
“The Alto Knights” não está à altura de outros filmes de máfia roteirizados por Pileggi, tampouco de outras produções dirigidas por Levinson (como “Rain man” e “Mera coincidência”). Entretanto, a obra estimula a interessante reflexão segundo a qual, ainda que diferentes, os agentes do crime podem ser iguais – ou, mesmo iguais, eles podem ser muito diferentes.


Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.