“QUANDO NOS CONHECEMOS” – Imaturidade ao tratar de relacionamentos
Todos, em algum ponto da vida, se envolvem em relacionamentos. E quem nunca quis voltar atrás e fazer tudo diferente? Certamente esse sentimento não é algo incomum. QUANDO NOS CONHECEMOS, dirigido por Ari Sendel, aborda essa temática da maneira mais grosseira e vazia possível.
Noah (Adam Devine) sofre de uma paixão atemporal por Avery (Alexandra Daddario). Após descobrir uma cabine de fotos com poderes mágicos de viajar no tempo, Noah irá fazer de tudo para conquistar a mulher dos sonhos, impedindo-a de noivar com Ethan (Robbie Amell).
A trama é desenvolvida através das recorrentes tentativas do protagonista de consertar sua história. Se assemelha muito a alguns filmes (inclusive recentes, como “A morte te dá parabéns”) que usam o fator de tentativa e erro do personagem principal para fazer a trama andar. Nesse longa, o roteiro ignora sua capacidade de mostrar ao espectador, visualmente, os pontos-chave para o andamento da história. Ao invés disso, há chavões repetidos inúmeras vezes, frases vazias e clichês em demasia. A montagem é problemática, pois acelera demais o ritmo do filme em momentos completamente desnecessários. No quesito da edição, há imaturidade notável em algumas partes (como a cena do abraço, logo no início do filme) que ditam o tom do longa.
Nas tentativas de humor, um grande empecilho é a atuação de Adam Devine. Ele consegue manter a expectativa em cenas que requerem mais seriedade, mas fracassa ao tentar entregar as piadas mais físicas. As caretas e excessos na expressão só tornam todo o filme ainda mais infantil. Alexandra Daddario não faz nada de mais, e Robbie Amell só precisa ser musculoso. Talvez o único trabalho convincente seja o de Andrew Bachelor no papel de Max, o melhor amigo de Noah. Há um timing cômico mais elaborado em Andrew, devido principalmente ao seu background de comédia do tipo paródia e sátira. O roteiro não aproveita bem o personagem, no entanto. Faltou uma maior construção de Max e uma abordagem que envolvesse sua ambição e seu jeito desleixado com as mulheres, aproveitando mais seu lado do humor.
A grande bobagem, que torna o filme infantil, é o fato de a trama ser demasiadamente previsível e entregar um protagonista que age de forma pouco inteligente no desenrolar da história. Não há o sentimento de descoberta junto a Noah. O espectador já sabe que o próximo passo não dará certo, pois ainda é o meio do filme. Esse é o grande problema com narrativas estruturadas dessa forma: não há expectativa nenhuma, pois o público sabe exatamente quando acontecerá o ponto de virada. Então o que sobra deveria ser aproveitável, certo? Errado. O humor não é inteligente, as falas são bobas e os personagens tão carismáticos quanto cones de trânsito.
Explorar a temática de viagem no tempo implica seguir algumas regras. Todas elas são quebradas pelo roteiro. Não há consequência das ações e, em muitos momentos, o público vai ser perguntar o motivo de o personagem principal não usar o que ele aprender na primeira tentativa e aplicar na segunda e assim por diante. Pelo visto, um dos efeitos da viagem no tempo nesse filme é a amnésia. Simplesmente são ignoradas algumas regras básicas do que é estabelecido dentro do próprio filme, para que uma piada funcione ou crie uma situação de humor fútil.
“Quando nos conhecemos” é uma comédia romântica infantilizada, clichê e extremamente previsível. Ritmo inconstante, repetição de chavões e más atuações são outros grandes problemas. Talvez fosse possível aproveitar uma ou outra cena que, isoladamente, funcionassem até melhor que dentro do próprio longa. Uma obra que não chega sequer a ser medíocre, fará o espectador desejar a própria viagem no tempo apenas para simplesmente não ter assistido a esse filme.
Apaixonado por cinema e pela arte de escrever.