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PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE “ARMADILHA”

“Eu consigo explicar as escolhas por trás de cada frame de “Armadilha”. Porque essa cena foi iluminada desse jeito, porque uma certa lente foi escolhida para ela, o porquê das cores. Eu consigo ir cada vez mais fundo nessa análise, porque cada detalhe importa. E nós conseguimos sentir essa diferença, esse cuidado com cada pedaço de um filme”, diz o diretor M. Night Shyamalan, antes de apresentar os primeiros 20 minutos de seu novo filme, ARMADILHA.

Acompanhado de sua filha, a cantora e atriz do filme, Saleka Night Shyamalan, e do ator protagonista, Josh Hartnett, o cineasta está participando de uma turnê mundial de divulgação do filme, que teve seu início na cidade de São Paulo, em um evento no Shopping JK Iguatemi. A equipe participou de um debate, que os jornalistas e convidados puderam acompanhar, e apresentou o início do próximo lançamento da Warner Bros. Em seguida, Saleka fez uma apresentação ao vivo, em que cantou três músicas originais produzidas para a produção.

O longa acompanha Cooper (Josh Hartnett) pai dedicado que leva a sua filha ao show de uma grande cantora pop. No processo, descobre que o evento nada mais é do que uma armadilha para aprisiona-lo: por detrás do papel de fachada, o homem atua como um temido seria killer.

(© Warner Bros. Brasil / Divulgação)

“Em Armadilha, eu instantaneamente alinho você ao pai. Então você descobre junto dele o que está acontecendo ali. A ideia é que você logo questiona o porquê de estar acompanhando esse protagonista. Você logo passa a se importar com esse pai. Gosto de pensar que o espectador vai se perguntar: “eu deveria estar torcendo por ele?”, explica o cineasta.

O trecho exibido ambienta muito bem a dualidade do espaço, brincando com a personalidade de seu protagonista. Variando entre a proximidade de expressões e a magnitude do estádio que ambienta o show, a vigilância se torna uma constante da fotografia de Sayombhu Mukdeeprom. Sua câmera aposta na imensidão de rostos e silhuetas dispersos pelo evento, e as converte em espécie de juízes daquela situação.

Os reflexos permitem ao duvidoso protagonista dividir a tela com os policiais espalhados pelo local. São intervenções constantes perante um primeiro plano plástico, que nos convidam a suspender impressões iniciais. Os olhares são constantes, e os deslocamentos também. Consciente de sua natureza fictícia, os filmes de M. Night Shyamalan sempre apontam para a sua própria dimensão enquanto imagem. Dessa vez não parece ser diferente.

As lanternas levantadas em uma determinada canção convertem o estádio em uma espécie de purgatório. Surge um jogo de contraste entre o azul e o vermelho, justificado pela iluminação do show, mas nem por isso menos ressonante de maneira simbólica.

De um lado, o filme apresenta esse ambiente físico em seus mais imersivos detalhes. Do outro, os planos se admitem enquanto símbolos, representando essa ideia de um intermediário entre a caricatura e a verdadeira essência da figura central.

Durante o debate, Shyamalan falou do desafio de dirigir, ao mesmo tempo, um show enorme, e a linha narrativa de seu protagonista. “Ao final, as duas coisas tinham que convergir. Eu virava para um dos câmeras, “isso, de uma panorâmica na plateia”. E ao mesmo tempo, “vá Josh, vá. Não estraga esse take”, brinca o cineasta. A relação entre quem assiste – dentro do filme ou da sala de cinema – e o que se assiste sempre foi uma das prioridades em seu pensamento cinematográfico.

Embora os minutos exibidos mostrem pouco além da própria sinopse, já é possível perceber que o filme renova o pacto entre o seu cineasta e as suas imagens. Existe uma honestidade muito grande na forma como Shyamalan se expressa a partir de códigos e signos. Pela forma como introduz o uso de pequenas telas, estabelece essa atmosfera de expiação, e utiliza as luzes e a pirotecnia de um show, para representar um problema a relação entre um homem e sua filha, o filme aparenta ser mais um belo conto de seu autor.

Armadilha” chega aos cinemas brasileiros no dia 8 de Agosto.