“PREDADORES ASSASSINOS” – Reconhecendo o esforço
Remakes têm gerado muita reclamação pela ausência de criatividade (o que é justificável, inclusive). PREDADORES ASSASSINOS chega perto de ser regravação de um clássico, mas se esforça em inovar um pouco, apenas se inspirando (bastante) no clássico. Contudo, esse é provavelmente o seu único mérito.
A estória do longa é bastante singela: a jovem Haley volta para a sua antiga casa à procura de seu pai, que deve estar lá pela memória afetiva do local. Subestimando os perigos resultantes de um furacão categoria 5 que devastou o local, ela se vê presa na casa inundada e cercada de jacarés prontos para um ataque.
A referência é inegável: o diretor Alexandre Aja faz quase uma homenagem ao clássico “Tubarão” (que já foi clássico do mês – clique aqui para ler a nossa crítica), repetindo ferramentas criadas por um Steven Spielberg, à época, inovador. Assim, são várias as cenas em que há filmagem em câmera subjetiva, por baixo da água, aliada a uma música de tensão, colocando o espectador na perspectiva da criatura que vai atacar sua presa. O próprio nome da película tem semelhança com o clássico, na medida em que ambos se referem à principal característica da criatura aterrorizadora – o nome original de “Tubarão” é “Jaws” (em tradução livre, “mandíbulas”); o nome original de “Predadores assassinos”, “Crawl” (“rastejar”).
A ideia de terror também está presente em ambas, porém a obra de Spielberg é infinitamente mais rebuscada nesse quesito. Enquanto esta abusa da sugestão, a de Aja é mais explícita, seja por jump scares (recurso de valor cinematográfico questionável hodiernamente, dada a sua banalização sem função narrativa), seja por mostrar consideravelmente os jacarés. O fato de mostrar os animais não seria ruim não fosse o insatisfatório CGI do longa, que é pavoroso na cena em que o rosto de Haley é preenchido de aranhas (nesse momento, o trabalho é amador).
“Predadores assassinos” não apenas não tem inovação como também, do ponto de vista técnico, deixa a desejar em diversos momentos. Visualmente, há uma clara opção fotográfica pelo gore (muito sangue, fraturas expostas e… mais sangue) e por uma paleta de cores entre azul e cinza, sempre em tons escuros, o que é coerente com a atmosfera criada (boa parte do filme se passa, inclusive, em um porão). Ou seja, imageticamente, o resultado não é catastrófico. Da mesma forma, a edição de som acerta tanto quanto erra: alguns ruídos são bem feitos, outros, todavia, são novamente pavorosos (por exemplo, o vento em cenário aberto emite sons, mas não daquele tipo), o que demonstra um trabalho de foley defeituoso.
O roteiro de Michael Rasmussen e Shawn Rasmussen abusa da exigência de suspensão da descrença e nos diálogos idiotas. No primeiro caso, o texto requer do espectador uma colossal desconsideração de impossibilidades fáticas gritantes (mais ainda do que normalmente já se pode esperar de um filme como esse). No segundo, algumas conversas são risíveis: por exemplo, Haley pede a uma personagem que fale com ela enquanto ela tenta sair de um local sem ser percebida pelos jacarés; quando seu interlocutor desenvolve a conversa, ela pede para parar porque contraditoriamente precisa de concentração.
Interpretada por Kaya Scodelario, a protagonista não é das melhores, mas não chega perto de ser o problema da produção. O plot lembra um pouco “Águas rasas”, tendo em vista que depende da força de sua personagem principal, porém Blake Lively tem mais talento dramático que Scodelario. Por outro lado, esta não é muito privilegiada pelo script, que se divide em dois conflitos parcamente desenvolvidos: o primeiro, a relação com o pai, um pouco tormentosa quando ele a treinava na natação; o segundo, o divórcio dos pais. Nenhum deles, contudo, entra na dimensão pessoal de Haley, mas servem (ou melhor, serviriam, se bem trabalhados) para os dois eixos temáticos do texto: família e sobrevivência.
“Predadores assassinos” é um filme que tenta explorar a importância dos laços familiares e sua possível relação com o instinto de sobrevivência. É uma abordagem esforçada, mas pouco funcional e relativamente nova (leia-se, melhor isso do que um remake de “Tubarão”). Entretanto, quando o espectador perceber que a melhor personagem do filme é a cachorra de Haley, que, na prática, é a grande heroína da narrativa (a mais carismática, a mais inteligente, a mais útil e assim por diante), o filme perde o seu encanto e vira quase uma comédia.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.