“PERDA TOTAL” – Humor bizarro e cheio de excessos
Alexxx (Adam Devine), Darren (Anders Holm) e Baby Dunc (Blake Anderson) são amigos que trabalham num hotel, tentando ter uma ideia que os façam ricos. Sua rotina de trabalho no hotel é interrompida pela chegada de Bei Awadi (Utkarsh Ambudkar), um famoso milionário jovem. Quando um grupo terrorista encontra Bei, os três camareiros vão tentar salvar o dia e a vida de todos os reféns. Esse é o argumento de PERDA TOTAL, a nova comédia original da Netflix. Entre gráficas piadas obscenas e cômicas situações irreais, o filme é um desastre narrativo que pode conquistar pelo absurdo.
O filme é dirigido por Kyle Newacheck, conhecido por trabalhar como roteirista da série “Workaholics”, protagonizada pelo mesmo trio de protagonistas desse longa. Ou seja, o diretor já conhece o tipo de humor e a personalidade de cada um dos atores. Isso é bem explorado no filme, ficando evidente uma construção dos personagens de acordo com suas características. As caras e bocas de Adam Devine, o humor irônico de Anders Holm e a cômica estranheza de Blake Anderson são o ponto alto do longa. O roteiro é definitivamente algo sofrível, mas que consegue ressaltar os três. A trama anda em muitos momentos devido às ações dos protagonistas, que reverberam e fazem a história andar.
E por ser uma comédia, é complexo afirmar onde “Perda total” vai prender o espectador. O filme não se leva a sério em nenhum momento, sendo carregado em sua integralidade pelo cúmulo do absurdo. As piadas físicas são vulgares e nojentas (com elementos do gore), além das surreais cenas que não transmitem nada mais que violência gratuita ou obscenidade. Justamente por ser esse festival de sangue, palavrões e tiros, o grande público pode facilmente não se identificar com essa obra. Mas é justamente por ser descarado e despretensioso que o filme tem seu espaço, principalmente como representante de toda uma categoria do humor: a bizarrice descompromissada do mundo real.
Dentro do que se propõe, o longa poderia ter acertado mais. O tempo perdido de tela de alguns personagens irrelevantes como Conrad (Neal McDonough) poderia ser melhor utilizado para construir a tríade de protagonistas, que é de longe o melhor elemento do filme. Algo a ser realçado é como não foi necessário apelar para um humor humilhante e discriminatório para fazer comédia. Por mais obscenidades e violências que possam haver, é interessante perceber o arco de Baby Dunc relativo a sua sexualidade e até mesmo a mulher que trabalha no hotel que toma coragem para encarar seu chefe machista.
Outro fator que evidencia como a história foi mal aproveitada pelo roteiro é a motivação de Alexxx, Darren e Baby Dunc. Além de serem patéticas e esdrúxulas, suas atitudes ao longo da história perdem totalmente o sentido com o que foi apresentado no início do filme. E quanto mais o tempo passa, mais tudo começa a desmoronar. O que antes tinha sido estabelecido, no terceiro ato deixa de existir. Nada faz sentido. Contudo, o único aspecto que esse longa entrega com coragem é a ação desenfreada banhada a sangue e – por que não? – alguns órgãos genitais. E isso não é ruim.
As escolhas de filmagem são acertadas, priorizando os elementos bizarros nas cenas de maior ação e a fotografia fez um bom trabalho ao destacar os contrastes do sangue com a paleta de cores lavadas do resto da mise en scène. Isso cria profundidade nas imagens mais chocantes e realça o sentido lógico do que está na tela: está lá porque é estranho. Não há fidelidade nenhuma com a física do mundo real. Por si só, esse fator é determinante para entender que o longa em questão não pode ser equiparado a uma comédia “pé no chão”, muito menos deve ser entendido como uma obra reverente e ambiciosa.
Graficamente pesado, bizarro e confuso são palavras que norteiam esse filme. Contudo, ele cumpre seu primário objetivo: divertir um público que anseia pelas piadas físicas mais repulsivas e sanguinolentas. Não são uma hora e quarenta minutos para todos, devido ao tipo de comédia ser extremamente fora do normal. Todavia, o filme tem um objetivo e o entrega. Não se pode esperar que “Perda total” seja parte do atual movimento do “humor inteligente”. Ele está mais para aquele sujeito sujo, desempregado, que mora com os pais, mal visto pela sociedade e que nem por isso não tem nada a oferecer.
Apaixonado por cinema e pela arte de escrever.