“PARQUE DO INFERNO” – Estrela única
O terror é um gênero que vem sendo revivido pelo público: embora nunca tenha sido esquecido, parece voltar a viver um momento de destaque, com franquias e subgêneros proliferando cada vez mais. PARQUE DO INFERNO é um slasher que tenta aproveitar essa onda, ignorando, porém, que não é possível fazer sucesso sem um nível mínimo de qualidade.
Tudo começa com um plot nem um pouco original: um grupo de jovens começa a ser aterrorizado por um serial killer mascarado, durante a noite de Halloween, no “Parque do Inferno”, uma espécie de parque de diversões temático. No começo, eles acreditam que tudo faz parte do espetáculo promovido pelo parque, percebendo aos poucos que os acontecimentos são reais.
Se não há originalidade, ao menos é possível verificar atualidade no longa ao unir um grupo crível de jovens empolgados com as atrações do parque. A ideia de unir dois solteiros também é crível, inclusive de uma forma desconfortável para os envolvidos, considerando todo o contexto. Entretanto, além de diálogos tolos (nada melhor que combinar uma viagem para a Espanha em uma conversa no banheiro durante o intervalo da perseguição, não? O serial killer pode esperar!), o roteiro tem uma subtrama de animosidade entre duas personagens (uma delas, a protagonista) sem relevância nem desenvolvimento, fatores que, somados à estúpida (e inútil) humanização do vilão ao final, expõem o quão ruim o texto consegue ser.
É verdade que os slasher movies não costumam ter roteiros profundos ou minimamente propositivos. Entretanto, “Parque do Inferno” se esforça para ser ruim (e tem êxito). O problema não é ter clichês – por exemplo, vítimas voluntariamente se encurralando no momento de maior perigo e desaparecimento inexplicável de personagens (embora, em alguns momentos, seja dada uma explicação, como quando o labirinto faz saídas diferentes) – ou conveniências questionáveis (nunca foi tão fácil conseguir uma faca), mas se limitar a isso. Não há absolutamente nada no longa que o torne minimamente memorável, representando uma mera reciclagem do que já foi visto.
A protagonista Natalie é vivida por Amy Forsyth, cuja atuação só não é pior que a dos colegas Reign Edwards, Christian James, Bex Taylor-Klaus e Roby Attal – respectivamente, a melhor amiga, o namorado da melhor amiga, a ex-atual-futura-quase amiga e o interesse amoroso – como qualquer roteiro ruim, as personagens são unidimensionais e estereotipadas.
Apesar de todos os defeitos do roteiro de Seth M. Sherwood e Gary Dauberman (sendo este o autor da obra original que ensejou o longa), o diretor Gregory Plotkin ao menos demonstra conhecimento de linguagem cinematográfica (não que isso tenha grande serventia para a película), o que faz sentido se considerada a sua experiência como montador no gênero (na franquia “Atividade paranormal”, do segundo ao quinto filme, em “Corra!” e em “A morte te dá parabéns”, dentre outros). Em uma cena na qual personagens precisam andar por um corredor de onde saem braços nas laterais, é inteligente o uso do efeito vertigo (dolly out e zoom in concomitantes, criação de Alfred Hitchcock em “Um corpo que cai”); além disso, a aparição do serial killer com pouca profundidade de campo e em slow motion dá uma atmosfera sombria a ele. Por outro lado, a maioria dos jump scares não funciona.
Reforçando a qualidade técnica pontual (e excepcional), dois aspectos se sobressaem: é bom o trabalho de iluminação e os cenários são convincentes (até porque não devem ser completamente realistas, facilitando o trabalho nesse quesito). É o que justifica a estrela única que o longa merece.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.