“OPERAÇÃO VINGANÇA” – Não se levar a sério
É comum se afirmar que alguns filmes “não se levam a sério”. Trata-se daquelas obras sem grandes pretensões, geralmente assumindo uma veia cômica subjacente, com altas doses de exagero e inverossimilhança, e que objetivam apenas divertir a plateia. OPERAÇÃO VINGANÇA tem tudo para ser um desses filmes, mas erra ao ser sério demais dentro de um estilo no qual ser diferente é fundamental.
Charlie Heller é um funcionário da CIA responsável por descriptografar e analisar dados sigilosos. Quando sua esposa, Sarah, é vítima de um ataque terrorista, ele pede aos seus superiores que tomem providências. Diante da inação da agência, Charlie decide ir atrás de vingança.

O diretor James Hawes propõe um longa do tipo “exército de um homem só”. Nos filmes de ação, há diversos atores que ganharam notoriedade em obras similares, como Chuck Norris, Jason Statham e Liam Neeson. Curiosamente, “Operação vingança” tem uma zona de contato com dois desses nomes: Norris é explicitamente citado por uma personagem que ironiza a conduta de Charlie, e uma das mortes que ocorre em Paris é idêntica a outra que ocorre, também em Paris, em “Busca implacável” (2008) – protagonizado por Neeson.
Diferentemente de Norris, Statham e Neeson, porém, o protagonista de “Operação vingança” não é convincente como herói de ação. Rami Malek não é alto (tem 1,71m), é franzino e não transmite uma figura ameaçadora como os demais. Porém, isso não é um problema para o filme, uma vez que o roteiro de Ken Nolan e Gary Spinelli (que adaptaram o romance de Robert Littell) demanda um protagonista com perfil de gênio da computação (tal como seu papel em “Mr. Robot”), não um action figure. O que é um problema, todavia, é a motivação genérica dada ao protagonista: diferentemente de Bryan de “Busca implacável”, que tem pouco tempo para resgatar uma filha imprudente, Charlie quer vingança pela morte da esposa que, naturalmente, amava. Não há nada especial em sua motivação, nada que realmente comova ou que provoque a urgência na sua atuação (salvo, evidentemente, o fato de estar sendo procurado pela CIA quando passa a agir sozinho, mas isso não tem a ver com a sua motivação).
Assim como Bryan, Charlie tem habilidades específicas que o qualificam para a tarefa a ser executada. É interessante, nesse sentido, que as suas habilidades sejam aproveitadas para tornar a sua atuação a mais crível possível, porém isso se torna uma obsessão e, por via de consequência, torna seus atos desinteressantes. Talvez fosse benéfico ao longa elastecer a suspensão da descrença, pois a sua seriedade traz um ar monótono ao longa, que acaba sendo apenas mais um filme de ação. “Operação vingança” não precisaria se transformar na nova franquia “Os mercenários” e fazer troça com a ação inverossímil, mas poderia perder o excesso de sobriedade. Essa atmosfera sisuda se reflete na linguagem empregada por Hawes, como na trilha musical, que é tão séria que recai no clichê e no esquecível. Quanto às poucas cenas de combate, os cortes frenéticos e as agitadas movimentações de câmera debilitam a visibilidade e demonstram inabilidade na elaboração
Ainda comparando com a produção de 2008, o fator humano do longa de 2025 é deveras frágil. Em “Busca implacável”, existe uma (relativamente) longa apresentação do relacionamento entre pai e filha, com subtramas envolvendo o casamento e os sonhos da jovem. Diversamente, em “Operação vingança”, a interação entre Charlie e Sarah (Rachel Brosnahan) é reduzida a uma cena inicial, à qual são adicionadas cenas em subjetividade mental e uma lembrança que serve de metáfora no encerramento. Nada, porém, sai do óbvio do marido enlutado. Para suprir a deficiência do herói, Hawes coloca participações especiais inúteis, como de Jon Bernthal e de outro ator renomado (que deve ter filmado em apenas um dia, como se estivesse fazendo um favor a um amigo), salvo a de Laurence Fishburne. Ainda que Henderson, personagem de Fishburne, seja apenas o arquétipo do sábio, a relação firmada com Charlie é cativante – mais do que com a esposa, inclusive – e constitui o traço mais forte de humanidade na trama.
A seriedade excessiva de “Operação vingança” é prejudicial porque o longa não tem o peso de uma franquia marcante, como 007 – aliás, existe uma piada sobre os carros Aston Martin, momento de humor quase solitário que, se ampliado, faria o filme bem mais divertido -, tampouco uma motivação tocante, ou um protagonista que empolgue o público. A rigor, até mesmo o seu modus operandi é tedioso. Se não se levasse a sério, o entretenimento seria melhor.


Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.