OPERAÇÃO VALQUÍRIA – A angústia de sabermos o fim
Trabalhar com a Segunda Guerra Mundial dentro de Hollywood sempre rendeu bons frutos, porém as narrativas heroicas sobre a invasão estadunidense já pareciam ter se esgotado em 2008. A decisão é, então, de mostrar aqueles que falharam, de mostrar o outro lado. É, também, um exercício de cinema, de fazer da linguagem cinematográfica autora da forma com a qual teremos contato com a OPERAÇÃO VALQUÍRIA, a última tentativa de derrubar Hitler vinda do povo alemão.
O coronel Von Stauffenberg, junto de outros membros do alto escalão da Alemanha na Segunda Guerra, decide dar um golpe de Estado, assassinando Hitler para, assim, poder salvar o país de uma inevitável destruição.
Na história acompanhamos o protagonista Stauffenberg, interpretado por Tom Cruise, já afetado por um bombardeio na guerra e sendo contra ela desde o início do longa, com uma atuação interessante. É um personagem mais contido, que sofre muita dor, mas que deve se manter forte devido à grande responsabilidade que assume – os marcos são as cenas em que precisa fazer coisas comuns como carregar uma maleta ou até ver algo na esquerda (olho que perdeu). Fazendo parte deste grupo de traidores que pretendem matar Hitler e tomar o governo, a primeira metade do longa explora as motivações de seu protagonista e a busca por membros que sejam confiáveis em um possível ataque. A segunda metade explora o golpe em si, que leva o nome do filme. O exercício presente na direção do Bryan Singer está em criar tensão nas situações postas em cena, já que sabemos, por conhecimento histórico, que o plano irá falhar em algum momento. Talvez a ansiedade criada constantemente através de closes extremamente fechados em personagens que começam o diálogo fora da tela, e, inclusive, pela constante mudança de cenários onde os diálogos acontecem, desperte um conjunto de nervosismo e angústia.
A retratação histórica criada pelo design de produção explora bem os espaços bastante apertados em certo ponto da trama, principalmente por muito do filme acontecer em lugares fechados – sejam nos planos para o ataque, nos momentos em família em um bunker e até no ataque em si. É muito valorosa a forma como Singer aplica a formalidade burocrática com a qual os soldados interagem e passam uns pelos outros, para compor a montagem e as cenas mais pessoais do filme. Em um momento de despedida entre Stauffenberg e sua esposa, interpretada por Carice Van Houte, a câmera fica na nuca do protagonista, que vê sua família sair de carro a mulher e os 3 filhos – a cena já é uma memória. O personagem já está em um avião indo em direção a uma reunião com líderes onde fará o ataque ao Führer. Enquanto o carro sai do foco e se afasta, escutamos apenas as turbinas de avião, mais à frente o carro para e a câmera se move lenta e horizontalmente, da direita para a esquerda, do carro sai sua esposa, que lhe dá um beijo de despedida antes da desonrosa (trair o seu líder), mas necessária, missão de salvar o país. A despedida da família e os olhos lacrimejados da esposa que volta por um breve instante representam o rompimento com o sonho do que poderia vir a ser esse ataque, tendo em vista que depois daquele momento vem com a missão também a realidade. As falhas conjuntas de coincidências e reincidências de diversas partes que não abandonaram Hitler levam o grupo de oposição à falha. A agonia angustiante de ver os planos por água abaixo um a um se potencializa por um final que retoma a esta memória, ao momento em que tudo poderia acontecer.
Singer tenta realmente imbuir no protagonista um ideal extremamente americano, em que sonha com a soberania de uma “verdadeira” Alemanha e que tudo aquilo que ocorreu no momento da Guerra é um desvio deste caminho, como se realmente houvesse um trilho a seguir. Essa bússola moral talvez venha a ser o aspecto mais fraco do longa. A tensão realmente é o aspecto que consegue ser alcançado em determinados momentos, porém a motivação dada pelo texto por Christopher McQuarrie nunca realmente explora os verdadeiros demônios dentro desses personagens que lideraram forças que massacraram parte da Europa por anos. Como se existisse tal coisa, McQuarrie faz dos que morreram na tentativa de “salvar” o país das mãos de Hitler os que realmente carregavam o espírito da Alemanha.
Sempre teimando em colocar em palavras, tudo aquilo que só é possível sentir.