“ONZE HOMENS E UM SEGREDO” – O glamour do assalto
Assumir-se como uma diversão descompromissada não é demérito para ninguém. Pode, inclusive, ser uma qualidade não se levar a sério quando seus objetivos não são tão densos nem complexos. É o caso de ONZE HOMENS E UM SEGREDO, remake de mesmo nome do filme lançado em 1960, contendo um elenco estrelado sob a batuta de um diretor competente. Na trama, o ladrão Danny Ocean deixa a prisão e, pouco tempo depois, já planeja assaltar três cassinos em Las Vegas com o auxílio de uma equipe de outros onze ladrões com diferentes especialidades.
A leveza e a descontração da produção dependem da disposição do elenco renomado em Hollywood para entrar na proposta do filme. Cada um dos atores aproveita seu tempo de tela (mesmo curto em alguns casos) para compor personagens bem humorados que parecem desfrutar de tudo ao seu redor sem maiores preocupações. Os atores encarnam um tom divertido da comédia policial e entregam performances coesas, por mais que não saibamos muito sobre os personagens (suas histórias, dramas, conflitos e desejos futuros). Aqui, os destaques ficam por conta de George Clooney como Danny Ocean, e Brad Pitt como Rusty Ryan, sempre trazendo um sorriso irônico no canto da boca e uma “canastrice” proposital sob medida. Os demais indivíduos do grupo do assalto apenas aparecem como símbolos das habilidades que possuem (um ladrão de mãos ágeis, um especialista em aparelhos eletrônicos, um fabricante de explosivos…) e mal recebem alguma atenção do roteiro. Aqueles que não pertencem à equipe servem somente como arquétipos dentro da narrativa: Andy Garcia como Terry Benedict é o vilão ambicioso, enquanto Julia Roberts como Tess Ocean é o interesse romântico do protagonista.
O diretor Steven Soderbergh conduz com segurança a simplicidade da trama. Ele trabalha as convenções do subgênero filme de assalto habilmente, conseguindo mesclar a estrutura narrativa necessária e o tom humorístico pretendido. É possível reconhecer os momentos de busca pelos integrantes do grupo, de preparação do assalto, de execução do plano e das reviravoltas finais para garantir o sucesso da ação. Há uma ligeira queda no ritmo do segundo ato (especialmente nas passagens anteriores ao roubo em si), porém o cineasta consegue manter o interesse do público na maior parte da projeção por nos colocar no ponto de vista dos assaltantes e nos fazer sentir dentro do plano.
Ainda que não busque contar uma história reflexiva ou de densidade dramática, o filme sofre com algumas decisões narrativas que comprometem sua relação com o espectador. Conveniências do roteiro podem ser digeridas quando não ocorrem em profusão nem quando exigem uma suspensão de descrença muito grande, contudo não é o que acontece aqui: algumas facilitações no enredo surgem facilmente para mover a trama e abusam do quesito sorte ou acaso. Outro problema aparece no terceiro ato, quando o ponto de vista dos acontecimentos muda do grupo de assaltantes para o dono do cassino – trata-se de um artifício que tenta criar um suspense, apelando para um alteração que quebra o fio condutor da narrativa (afinal, tudo estava sendo visto pelo olhar dos ladrões) e provoca uma sensação de frustração no público. Algo que poderia ter sido evitado.
A direção de atores feita por Soderbergh é mais destacada do que seu trabalho de movimentação de câmera ou de construção de enquadramentos evocativos. Não se trata de um problema, mas de uma opção que valoriza a criação de um ambiente que facilite nossa imersão através do carisma dos personagens. Se a câmera não chama tanta atenção para si, a montagem precisa ser cuidadosa para mover a história e controlar as variações do ritmo narrativo. Além da alternância entre planos relativamente lentos de poucos cortes durante os diálogos e outros mais longos durante as sequências de ação, é necessário encadear os diferentes momentos de cada personagem no golpe. Para isso, recorre-se à técnica do split screen, de divisão da tela para mostrar dois acontecimentos simultaneamente em cenários distintos – acompanhar as diversas partes do assalto se torna, portanto, dinâmico, sem precisar saltar abruptamente de um ponto a outro.
E, claro, não poderia faltar num filme hollywoodiano a glamourização do assalto realizada pela maioria das produções do subgênero. Não somente a escolha do elenco com nomes do gabarito de George Clooney, Brad Pitt, Julia Roberts e Matt Damon cumpre essa função. A utilização constante de um filtro de luz amarelo sobre vários cenários (especialmente no cassino) pode simbolizar a riqueza e a ostentação que cerca os personagens e a realidade da qual fazem parte. E a trilha sonora composta por David Holmes utiliza alguns temas clássicos do filme original da década de 1960 e cria outros com a mesma energia pulsante e contagiante.
“Onze homens e um segredo” não pretende revolucionar a sétima arte nem promover uma narrativa cinematográfica inventiva de temas profundos. O objetivo é divertir plateias de todo o mundo por não se levar a sério. Embarcar nas direção sugerida pelo filme pode proporcionar uma diversão passageira que talvez não fique registrada em sua memória de forma duradoura. Nem para o bem nem para o mal.
Um resultado de todos os filmes que já viu.