“O PENITENTE” – A condição humana em questão [FCI 2024]
Em O PENITENTE, a ambição de explorar as falhas profundas de uma sociedade que rapidamente cria vilões e heróis em resposta a tragédias se perde em uma narrativa que, apesar de suas intenções, falha em manter um ritmo envolvente e coeso. Assim, a proposta do filme de provocar reflexões sobre a condição humana é ofuscada por escolhas narrativas que tornam a experiência do espectador por vezes maçante e cansativa.
A trama se desenvolve a partir do momento em que o paciente do protagonista, o médico Charles, depois de causar um massacre, o acusa de se recusar a defendê-lo devido à sua orientação sexual e a um suposto preconceito adquirido após a conversão religiosa. Esta alegação não apenas ameaça a carreira de Charles, mas também coloca em risco sua própria identidade e crenças. É a partir desse ponto que o filme se desdobra, lançando o espectador em um dilema moral intenso que questiona a responsabilidade de um profissional da saúde e as implicações de suas decisões, desafiando suas convicções éticas.
A atuação de Luca Barbareschi como Charles é um dos pontos altos do filme, trazendo uma profundidade que revela as inseguranças e conflitos internos do personagem de maneira convincente. Contudo, o arco pessoal do psiquiatra apresenta limitações significativas, principalmente devido à repetição de diálogos e à exploração de temas que já foram discutidos, o que torna a narrativa por vezes monótona e desgastante. Esses aspectos comprometem o impacto emocional que poderia ser alcançado, especialmente em um filme que aborda questões tão relevantes. Embora os monólogos intensos sejam uma marca registrada da obra, sua extensão frequentemente sobrecarrega a narrativa; em certos momentos, esses discursos poderiam ser mais concisos, permitindo que a trama fluísse de maneira mais eficiente. A intenção de explorar a psique do protagonista é válida, mas o excesso de tempo dedicado a determinados diálogos prejudica o ritmo do filme e dispersa a atenção do público, resultando em uma experiência que poderia ter sido mais impactante e envolvente.
Além disso, os personagens secundários carecem de desenvolvimento, o que prejudica a construção de uma narrativa mais rica e envolvente. A falta de profundidade em suas histórias faz com que suas motivações e ações pareçam superficiais, limitando a conexão do espectador com o que acontece ao redor de Charles.
A crítica social presente no longa é relevante, especialmente no contexto atual, em que preconceitos e desentendimentos estão em alta. O filme tenta abordar temas como culpa, aceitação e a luta interna de indivíduos que se veem em situações extremas, mas a forma como essas ideias são apresentadas pode deixar a desejar. A ambição do diretor em criar uma reflexão profunda sobre a condição humana é clara, mas a execução falha em manter a coesão e a clareza necessárias. Em resumo, ”O Penitente” é uma obra que se esforça para ser um estudo profundo sobre moralidade e preconceito, mas que acaba não conseguindo se sustentar em suas promessas. A atuação de Luca Barbareschi é digna de aplausos, trazendo um personagem complexo, mas a repetição de diálogos e a falta de desenvolvimento de personagens secundários comprometem a experiência do espectador. Ao final, o filme provoca reflexões relevantes, mas sua execução deixa a desejar, resultando em uma obra que poderia ter sido muito mais impactante e memorável, se explorasse melhor seus temas centrais.
* Filme assistido durante a cobertura do Festival de Cinema Italiano 2024.