“O MALVADO – HORROR NO NATAL” – A maldade de se auto sabotar
Associado ao baixo orçamento e repleto de truques de câmera e maquiagem, o cinema de horror sempre foi muito prolífero. Ainda que o tempo tenha determinado muitos clichês, a experiência como gênero sempre foi muito atraente, convencendo muitos, em certos casos, a priorizar os sustos e a emulação de uma boa atmosfera. Mesmo que o acabamento dramático nem sempre seja a prioridade, não significa que a linguagem traga sempre a saída, caso reforçado pelo preguiçoso nicho do qual O MALVADO: HORROR NO NATAL faz parte.
Após perder os pais para uma lenda natalina de sua cidade, a desamparada Cindy luta para encontrar um novo sentido de vida. Quando o monstro macabro – uma espécie de “Grinch” que transforma o ódio pelo Natal em um banho de sangue – retorna para ameaçar a população, fica logo evidente que ela será uma das únicas capaz de detê-lo.
Seguindo uma linha semelhante ao do recente “Ursinho Pooh: sangue e mel”, tem-se popularizado a safra de reinterpretações violentas de figuras de um imaginário mais infantil. Ainda que o hábito seja derivativo por essência, o investimento em sequências ágeis, e possivelmente inteligentes, de perseguições e mortes, poderia alavancar qualquer produção desse tipo. É o que está longe de acontecer nas mãos do diretor Steven LaMorte.
Em primeiro lugar, seria injusto dizer – e principalmente com o acaso do sobrenome, seja artístico ou não – que a direção ignora a vocação do projeto para com a sanguinolência desenfreada, na forma como fragiliza propositalmente a estruturação da trama. Existe um deboche nítido para com a própria mitologia da cidade, e a atmosfera que permeia tudo e todos gera um efeito verdadeiramente cômico. Tal caminho, seja consciente ou não, funcionaria muito bem não fosse a total ausência de criatividade na condução dos assassinatos e nas aparições da criatura mortífera (David Howard Thornton).
Desprovido de qualquer noção de ritmo, o filme entrega tudo de maneira atropelada, minimizando o impacto das mortes e saturando rapidamente as técnicas de sua execução. Não é como se o objetivo do projeto fosse trabalhar uma forte associação entre personagem e público, mas mesmo o aproveitamento passageiro acaba sabotado aqui. É como se o filme quisesse subverter a sua própria limitação, linguística ou orçamentária, sem jamais reconhecer as virtudes que essa poderia proporcionar.
Por mais que as interpretações nunca demorem a beirar o cômico – especialmente no contraponto entre a seriedade que tentam transmitir e a realidade das habilidades do elenco -, o sucateamento de personagens descartáveis tira a atenção da presença mitológica que rodeia a todos, e que acaba entregue a participações nada sutis e que logo revelam o seu escopo total. Mesmo que o intuito seja essa utilização óbvia, que por um lado prioriza a violência gráfica – por vezes repulsiva, tirando o espectador de um estado de indiferença -, essa insistência acaba tornando o projeto uma grande piada de uma vez só.
Longe de ter entre as suas pretensões um uso de técnicas conceituadas de suspense – em que a ameaça literal do projeto é revelada aos poucos, entre outros recursos -, e mesmo uma coerência interna de roteiro e construção de universo, o longa peca assim não por esses desvios óbvios, que seriam facilmente contornados por uma filiação ao slasher – subgênero marcado pelas matanças desenfreadas, carregadas de imagens fortes e gráficas – demonstra uma falta de atratividade que invalida inclusive as maiores despretensões aqui articuladas.
É como se existe uma associação obrigatória com um audiovisual mais narrativo, que inibe o surgimento de pequenas joias que poderiam justamente usufruir de sua liberdade uma vez alheias à interferência de grandes estúdios ou necessidades mais comerciais.
Dessa forma, tem-se um filme que se recusa a admitir todo o potencial de pastiche que possui desde a sua própria premissa. Por mais derivativa que a origem de um projeto possa ser, não são poucos os casos de subversão que surpreendem justamente pela aceitação de sua própria essência, fazendo dessas produções ótimos – ou ao menos funcionais – casos de pacto entre público e diretor. E no exemplo de “O malvado – horror no Natal”, roubar o Natal não foi malvadeza suficiente para o Grinch da vez.