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“O GRITO DAS LEOAS” – Uma jornada de liberdade e descobertas

O GRITO DAS LEOAS apresenta a dura e comovente realidade de três jovens mulheres em um vilarejo isolado do Kosovo, onde seus sonhos e ambições são constantemente sufocados pela discriminação, pela falta de oportunidades e pela rigidez de tradições existentes. A narrativa busca capturar a angústia de uma geração aprisionada em um ciclo de pobreza e escolhas que são transmitidas de geração em geração, perpetuando um sentimento de estagnação. Esse retrato íntimo e doloroso reflete os desafios enfrentados por tantas outras jovens em contextos semelhantes. No entanto, apesar do forte apelo emocional da história, sua execução enfrenta limitações que comprometem o impacto e a profundidade que poderiam torná-la ainda mais marcante.

No centro da trama, três amigas se unem em uma jornada em busca de independência, enfrentando as barreiras de um ambiente que lhes oferece apenas limitações e desesperança. Vivendo sob o peso constante da desigualdade, de relacionamentos abusivos e da opressão que parece inescapável, elas encontram força na amizade para desafiar as imposições ao seu redor. Determinadas a revidar contra aqueles que as prejudicaram e a dar voz às suas aspirações reprimidas, decidem formar uma gangue. Unidas, exploram caminhos que misturam vingança, autodescoberta e resistência. Contudo, suas escolhas impulsivas, típicas da juventude, carregam consequências inevitáveis, levando-as a decisões que transformam suas vidas de maneiras irreversíveis e as colocam diante de dilemas difíceis.

(© Vitrine Filmes / Divulgação)

Dirigido por Luàna Bajrami, que também interpreta Lena na trama, “O grito das leoas” marca a estreia promissora da jovem cineasta de 20 anos. A diretora demonstra um olhar poético e uma abordagem ousada, características que já revelam um talento em desenvolvimento. No entanto, sua inexperiência como roteirista é perceptível, refletindo-se em um roteiro que, embora repleto de potencial, carece de maior refinamento e coesão. Algumas transições entre cenas são abruptas, prejudicando o ritmo da narrativa, enquanto certos momentos soam desconexos, dificultando a imersão total do espectador. Ainda assim, sua direção sensível revela uma capacidade notável de captar a inquietação e os anseios das protagonistas.

O trio principal, composto por Flaka Latifi como Qe, Era Balaj como Li e Uratë Shabani como Jeta, entrega atuações que impressionam pela intensidade e autenticidade, transmitindo com maestria a complexidade emocional e os conflitos internos de suas personagens. Cada uma delas carrega o peso de uma realidade sufocante, mas ao mesmo tempo transmite a energia, a força e a vulnerabilidade próprias da juventude. Essa dinâmica entre as três protagonistas é um dos grandes acertos do filme, trazendo camadas de emoção para a narrativa. A trilha sonora de Aldo Shllaku complementa perfeitamente essa atmosfera, adicionando um toque melancólico e esperançoso que amplifica o impacto das cenas. Em meio ao caos e à desesperança que permeiam a história, a música surge como uma ponte que conecta o público à luta e à resiliência desses jovens, reforçando a sensação de que ainda resta uma ponta de esperança em seus caminhos incertos.

Embora apresente méritos técnicos e narrativos notáveis, o filme enfrenta dificuldades significativas em sua construção dramática, o que compromete a força de sua narrativa. Algumas escolhas criativas, como a inclusão da personagem interpretada pela própria diretora — uma emigrante que retorna ao Kosovo trazendo consigo ideias literárias e sociais — carecem de uma integração mais orgânica com a trama principal. Essa desconexão cria rupturas no fluxo narrativo, desviando o foco da jornada emocional das protagonistas e diluindo o impacto que a história central poderia gerar.

“O grito das leoas” é um trabalho que merece atenção por sua abordagem poética e pela coragem de abordar temas sociais importantes, como a desigualdade de gênero e a luta por liberdade em contextos adversos. Apesar de suas falhas, a estreia de Luàna Bajrami revela uma cineasta promissora, que sabe como capturar a intensidade dos dilemas de suas personagens. O filme, ainda que imperfeito, é um lembrete poderoso de que a busca pela liberdade, mesmo em meio a adversidades, é um grito que não pode ser silenciado, ecoando a força da resistência e da esperança.