“O ESPAÇO INFINITO” – A possibilidade de ser
É universal a busca pela compreensão. Somos assombrados pelo que há de desconhecido, perseguidos pela necessidade de descobrir como certas incógnitas podem auxiliar a nossa definição. Concebido por esse mesmo ímpeto de investigação, o cinema pode ser uma interessante porta de entrada para o processo. É o caso da pesquisa interna arquitetada por O ESPAÇO INFINITO, que associa a complexidade da autoafirmação feminina com a universalidade de ser.
Angustiada pela busca de uma nova estrela, a astrofísica Nina acaba internada em uma clínica psiquiátrica. Atormentada por ecos de um passado ao lado do falecido pai, ela precisa conciliar o tratamento com a vida do filho e do marido, tentando ainda solucionar a si mesma.
Bebendo bastante dos horizontes exóticos em que se ambienta, o longa associa profundamente o espacial à unidade interna da protagonista. Utilizando especialmente da imensidão de cavernas apertadas, e o vazio do céu estrelado, o diretor Leo Belo constrói um senso de pertencimento bastante delicado. É como se o afastamento inerente a tais cenários fizessem parte da própria personagem, que apenas em sua anulação avança na descoberta da própria essência.
Para tal, pode-se observar o maneirismo aplicado no filme, que estiliza os transes que Nina atravessa como uma forma de suspender a sua própria racionalidade. Da iluminação bastante dramatúrgica aos elementos mais específicos dos filmes de gênero, existe o uso de uma artificialidade bastante consciente. Tal elemento corrobora para essa busca distante da realidade, conjurando uma espécie de realismo mágico que suspende a tal “estrela” tão procurada como símbolo metafórico.
Em um campo mais sutil, é interessante como esse exercício de fabulação dialoga com a perspectiva do papel feminino, pouco representado nesse espaço da comunidade científica. É quase como se o projeto ambicionasse um discurso interno acerca da imaginação dessas figuras, questionando, pela crise geral de Nina, por quanto tempo essas personagens ainda permanecerão – mesmo que a exclusão esteja menos intensa atualmente – apenas nesse campo imaginativo.
Indo além, entretanto, o filme peca pela forma como restringe a atriz Gabrielle Lopes a uma interpretação mais corporal. A força da produção acaba se afastando em seus diálogos, e a afinação estética do todo desvia, em certos casos, um foco que deveria se manter ainda mais na personagem. O que ainda assim não determina uma atuação fraca, que mesmo com as suas limitações consegue desenvolver uma Nina profunda e fragmentada dentro de si mesma.
Como um todo, “O espaço infinito” apresenta uma interessante perspectiva sobre a autodescoberta aliada a percepção do espaço. Embora priorize uma assinatura visual que por vezes desvia focos necessários ao aprofundamento do longa, o filme exibe uma identidade bastante bem vinda na forma como articula a imensidão íntima de sua personagem e fragmentos de uma esfera social mais ampla.