“O BOM PROFESSOR” – A superficialidade do conflito
O BOM PROFESSOR nos apresenta uma trama instigante sobre um professor injustamente acusado de assédio sexual, um tema que gera forte tensão emocional. No entanto, o filme acaba perdendo sua força ao se concentrar excessivamente no sofrimento do protagonista, sem explorar a complexidade do drama e das relações envolvidas. A história, baseada em uma experiência real, poderia trazer uma reflexão profunda sobre as consequências das falsas acusações, mas se perde ao abraçar uma narrativa rasa e, por vezes, desconexa, que deixa o espectador à margem do impacto que deveria gerar.
Julien Keller, um jovem e dedicado professor de literatura, se vê no centro de um pesadelo quando é acusado de assediar uma aluna de sua classe. O boato, inicialmente restrito ao ambiente escolar, começa a se espalhar rapidamente, destruindo sua reputação e colocando em risco sua carreira. Determinado a provar sua inocência, Julien tenta, a todo custo, desmentir as acusações e limpar seu nome, mas quanto mais ele se esforça para controlar a narrativa, mais ela escapa de suas mãos. O filme segue o protagonista enquanto enfrenta o impacto devastador desse mal-entendido, que vai além do ambiente escolar. A acusação afeta sua relação com seu namorado Walid, causando tensão e desconfiança entre eles. Ao mesmo tempo, Julien se depara com a indiferença e o julgamento de seus colegas de trabalho, que o evitam ou se afastam, temerosos de se associar a ele. À medida que o boato cresce e sua vida desmorona, o professor tenta recuperar o controle da situação, mas se vê impotente diante da rapidez com que os rumores se espalham e da dificuldade de refazer sua imagem.

A trama é baseada em uma experiência vivida pelo próprio diretor Teddy Lussi-Modeste, que também assina o roteiro ao lado de Audrey Diwan. A escolha de inserir o público diretamente no cerne da história, sem explicações iniciais sobre o contexto do professor e seus alunos, é um movimento inteligente, colocando o espectador no meio do conflito. No entanto, o filme se perde ao explorar subtramas, como a relação com o namorado e a ameaça de morte enfrentada pelo professor. Embora essas histórias paralelas tenham o potencial de enriquecer a narrativa, elas acabam soando genéricas e pouco desenvolvidas. O diretor parece mais interessado em nos mostrar a dor do protagonista do que em explorar as nuances do próprio conflito. O fato de a trama ser baseada em uma experiência real deveria conferir um peso maior à narrativa, mas o foco exclusivo na tentativa de provar a inocência, e a maneira como ele é retratado, cria uma sensação de repetição, na qual a história parece não avançar de forma satisfatória. A tentativa de capturar a angústia do personagem acaba fazendo com que o espectador se distancie dele.
Além disso, as atuações, embora competentes, não conseguem superar o fato de que os personagens carecem de um desenvolvimento mais profundo. François Civil, que interpreta Julien, se esforça para transmitir a carga emocional do papel, mas seu personagem se mantém distante, como se não houvesse algo mais a ser descoberto além de sua alegada inocência. O ator consegue demonstrar a angústia do protagonista, mas a performance acaba ficando presa a uma linha emocional que não evolui, o que impede o público de estabelecer uma conexão verdadeira com ele. Shaïn Boumedine, como Walid, o namorado de Julien, também se limita a um papel secundário, sem grandes momentos de destaque.
Em suma, “O bom professor” é um filme que tenta criar um retrato de uma situação difícil e injusta, mas falha em explorar as complexidades humanas que poderiam fazer essa história realmente ressoar com o público. O filme se perde em subtramas e em um foco excessivo no sofrimento do protagonista, sem dar a devida atenção às implicações sociais e emocionais de sua situação. A história, embora com um ponto de partida interessante, acaba se tornando previsível e pouco impactante. O dilema da inocência sob suspeita, tratado de maneira um tanto superficial, perde a oportunidade de se aprofundar em um tema tão relevante, mas que, no fim, se esvai em uma narrativa que não cumpre totalmente sua promessa.

Um verdadeiro apaixonado pelo cinema, que encontrou nas palavras a maneira ideal de expressar as emoções e reflexões que cada filme desperta.