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“MILTON BITUCA NASCIMENTO” – O legado de um brasileiro pelo mundo

MILTON BITUCA NASCIMENTO é um documentário que, ao mergulhar na despedida de Milton Nascimento dos palcos, questiona a ideia de como abordar a arte de um dos maiores nomes da música brasileira. A obra, repleta de emoções e reverências, nos faz refletir sobre o que representa Milton, sua música e a alma brasileira. No entanto, a produção acaba se distanciando um pouco da profundidade do próprio artista, focando demais em sua adoração mundial, em detrimento da riqueza da sua essência mineira e da sua trajetória singular. A pergunta que fica é: será que o filme, ao tentar apresentar Milton Nascimento para o mundo, se distancia demais do próprio Brasil e do que ele realmente representa para nossa cultura?

O longa acompanha a turnê de despedida de Milton Nascimento, explorando sua vasta obra musical e a carga emocional que ela carrega. O documentário não apenas celebra o artista e sua trajetória, mas também mergulha nos aspectos mais profundos de sua música, que atravessam gerações e fronteiras. Ao longo da produção, o filme investiga os mistérios de sua sonoridade única, as influências que moldaram sua música e os desafios enfrentados ao longo de uma carreira marcada por momentos de superação, como o racismo sofrido e as dificuldades pessoais.

(© Gullane+ / Divulgação)

A produção, dirigida por Flávia Moraes, não se limita apenas a mostrar os momentos no palco, mas também nos leva a uma reflexão mais profunda sobre o racismo que Milton Nascimento sofreu e a reação de figuras importantes do cenário musical nacional, como Djavan, Djonga e Mano Brown. A questão aqui não é apenas a sua história pessoal, mas a conexão que sua música gera, unindo gerações e atravessando fronteiras. No entanto, apesar de sua excelência, o filme parece cair em um excesso de reverência internacional, algo que talvez não fosse necessário para um artista já consolidado no coração do Brasil.

A narração de Fernanda Montenegro e a presença dos depoimentos de grandes nomes como Caetano Veloso, Simone e Ivan Lins que ajudam a construir o personagem Milton Nascimento como uma figura de proporções quase mitológicas. Sua técnica vocal e sua liberdade criativa com a banda são pontos que o filme aborda com destaque, sempre buscando dar ao espectador uma sensação de imersão na música e na performance do cantor. Há, ainda, momentos de pura emoção, como a sequência que reúne Milton, Djavan e Mano Brown cantando a poderosa “Morro Velho”, que é, sem dúvida, uma das grandes virtudes do filme, unindo gerações e estilos.

No entanto, o documentário peca ao se perder em momentos que parecem mais voltados para exaltar o quanto Milton Nascimento é reconhecido mundialmente, especialmente nos Estados Unidos, como se fosse necessário “validar” a importância do artista para um público externo. O cantor, o mineiro autêntico, com sua musicalidade profunda e única, já é uma entidade dentro da cultura brasileira. A seu respeito, às referências externas, embora válidas, acabam tirando o foco do que o define como um ícone genuinamente nacional. A produção parece, em certos momentos, gastar tempo demais tentando provar o que todos já sabem: a grandiosidade de Milton Nascimento transcende qualquer fronteira.

Apesar disso, o filme continua sendo uma obra visualmente poderosa e musicalmente encantadora. As músicas de Milton controlam e pulsam o filme inteiro, com uma habilidade impressionante de interagir com a narrativa e emocionar a cada acorde. É uma experiência cinematográfica de imersão, que, por mais que em alguns momentos pareça um pouco repetitiva ou longa, tem o poder de tocar o espectador. Quando o documentário se permite celebrar a liberdade e a beleza de sua música, sem se preocupar com a necessidade de explicar seu impacto global, ele brilha com mais intensidade.

Em resumo, “Milton Bituca Nascimento” é uma obra que celebra Milton Nascimento como ele merece: com um olhar profundo sobre sua música e seu impacto. No entanto, o foco excessivo na validação de sua importância para o público internacional acaba obscurecendo o que realmente importa: o lugar único que Milton ocupa na música brasileira e a maneira como ele construiu uma carreira repleta de alma, complexidade e beleza.