“MIB: Homens de Preto” (1997) – Eles estão entre nós
Há quem acredite que tudo é uma farsa. Para alguns, a Terra seria plana. Os teóricos da conspiração defendem que Stanley Kubrick gravou a famosa cena do homem chegando à Lua, fato que, na verdade, nunca aconteceu. Brincando com isso está MIB: HOMENS DE PRETO, de 1997, filme no qual uma agência secreta governamental seria responsável por supervisionar a presença de alienígenas na Terra.
A dupla protagonista de “MIB” é Jay e Kay. Este é um agente já experiente, que começa a treinar aquele para também trabalhar na agência. O primeiro grande trabalho de Jay é enfrentar um terrorista intergalático cujo objetivo é iniciar uma guerra e destruir a Terra.
Com roteiro de Ed Solomon a partir das HQs de Lowell Cunningham, o filme é uma criativa miscelânea de gêneros. O enredo é claramente de ficção científica, porém com uma narrativa de ação com toques de comédia. Há um evidente exagero em relação ao universo criado, como se pouquíssimas pessoas no planeta todo soubessem que há alienígenas camuflados entre seres humanos, muitos deles bem avançados em relação à humanidade.
No viés da comédia de ação, a trama se desenvolve de maneira dinâmica com o humor consistente nas personagens. Com uma duração não muito extensa, não há cenas arrastadas ou dispensáveis (embora existam, como a cena do parto), sendo o longa razoavelmente econômico em seu desenvolvimento. Também não há grande preocupação com o desenvolvimento das personagens – o que não significa que elas não são desenvolvidas -, sendo o foco do diretor Barry Sonnenfeld a exposição de um universo diegético deveras particular e heterodoxo.
A química entre Tommy Lee Jones e Will Smith, respectivamente Kay e Jay, tem como resultado um humor de qualidade. Enquanto Kay é sério e aparentemente mal-humorado, Jay é extrovertido e falante; enquanto aquele é respeitado no trabalho, este entra em conflito com os colegas policiais. Em comum, a competência e a clara amizade crescente, pois, enquanto parceiros de trabalho, eles se completam. Um dos momentos que deixa isso claro é a cena em que abordam um vendedor clandestino de armas: é o veterano quem tem o conhecimento, perdendo a paciência com o alienígena; de seu turno, o novato, ainda se acostumando com tudo aquilo, faz uma piada sobre as joias para não sair por baixo. Jones é a representação da mais pura sobriedade, quase despido de emoções, enquanto Smith é mais espontâneo e desajeitado – por exemplo, na cena em que conversam com a esposa de Edgar.
O roteiro não é exatamente denso, mas possui alguns predicados – para além da inventividade -, como o sutil discurso feminista ao final. Como subtexto, há uma ironia ácida acerca da arrogância da humanidade, que se considera solitária no vasto universo, ignorando a possibilidade da existência de seres muito mais inteligentes e talvez não tão distantes. Outro aspecto irônico é a incredulidade dos que descobrem os alienígenas, só acreditando no que estão efetivamente vendo, como se a visão garantisse o acesso à verdade (uma dessas brincadeiras está no pug). O texto lida com a subversão da expectativa, como na cena dos mexicanos, em que o espectador ainda não faz ideia do que pode ocorrer na abordagem, e na icônica cena com um pug – a raça de cachorro, por sinal, ficou marcada pela participação de um representante em “MIB”.
Assinada por Danny Elfman, a trilha musical combina muito bem com a comédia de ação alienígena de “Homens de Preto”. Contudo, é o visual que chama mais a atenção, especialmente o design de produção e a maquiagem. Diante de um universo diegético tão peculiar, é bem explorado o espaço para gadgets como o neuralizador, o carro ultrapassado apenas na aparência e a arma pequena que Kay dá a Jay – trata-se de uma clara mensagem sobre o equívoco do julgamento pelas aparências. No caso da maquiagem, é impressionante o trabalho feito em Vincent D’Onofrio, que parece ter na pele uma carcaça removível diante da deformação e do enrugamento. Deve ser também reconhecido, é claro, o trabalho do ator, que faz uma nova voz para Edgar depois que ele passa por uma transformação, além do desempenho corporal (pescoço torto e caminhar desconfortável) formidável.
Outros aspectos imagéticos são igualmente dignos de nota. A fotografia de Donald Peterman preza pelo uso da cor verde como associação ao que é extraterrestre: o carro de Edgar atingido por uma nave, a loja de joias, o caminhão do dedetizador etc. Além disso, o figurino de Mary E. Vogt, a despeito do pouco espaço (já que a premissa é colocar os agentes de terno), aproveita bem as oportunidades de diferenciação: antes de ser aceito na MIB, Jay (ou, naquele momento, policial Edwards) usa cores vivas em seu vestuário, como laranja e vermelho, o que combina com a sua personalidade.
“MIB: Homens de Preto” talvez não tenha se tornado um clássico cult, dada a superficialidade de seu script. Entretanto, não se pode dizer que é um mero blockbuster antigo, já que conseguiu estabelecer novos rumos na ficção científica – que nem sempre precisa ser séria (algo que raros filmes, como este e “De volta para o futuro”, conseguiram) -, avançar na tecnologia de computação gráfica (impressionante para a sua época), catapultar a carreira de um ator promissor (Smith) e abordar com leveza uma enorme teoria conspiratória. Não é à toa que o filme se tornou um símbolo cultural bastante popular muitos anos depois.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.