“LOKI” [1X02] – Ordem ou caos?
Após um primeiro episódio bastante divertido e bem realizado, como manter a qualidade na semana seguinte quando as expectativas já estão mais altas? Aprofundando as qualidades já existentes e fornecendo novas possibilidades instigantes ao que já havia na narrativa. Essa é a linha seguida por “A variante“, novo capítulo de LOKI a estrear na Disney+. A série transporta a fluidez do protagonista para o desenvolvimento da trama que continua combinando diferentes gêneros, além de encenar cada acontecimento e escolha estética dentro do conflito entre ordem e caos.
No segundo capítulo, Loki e Mobius seguem na investigação em busca da Variante que vem ameaçando a Linha do Tempo Sagrada com o risco de criar perigosas ramificações. Essa ameaça é o próprio deus nórdico em outra versão, o que faz com que o protagonista se sinta provocado a testar os limites do poder do antagonista. Enquanto isso, toda a agência da Autoridade de Variância Temporal reúne pistas sobre as mortes dos Homens-Minuto, tentando entender o plano da Variante e encontrar seu esconderijo.
Histórias de detetive e de ficção científica são inspirações para a produção, especialmente quando as investigações apresentam mais aspectos sobre os riscos de viagens no tempo, as interferências na cronologia estabelecida pelos Guardiões do Tempo e o trabalho da agência para restabelecer a ordem necessária – no episódio em questão, um elemento novo adicionando à mitologia é a necessidade de os agentes “resetarem” alguma linha do tempo para conter variações no fluxo temporal. Ao invés de ser apenas uma subtrama de mistério, o roteiro de Michael Waldron equilibra esse subgênero com passagens de ficção científica: por exemplo, após as cenas em que Loki procura informações sobre o caso em arquivos da AVT e formula uma teoria sobre o paradeiro da Variante, há momentos de viagem no tempo para provar essa teoria e continuar a caçada. Com essa fusão, a obra prefere o “caos” criativo do encontro de distintos estilos à “ordem” limitadora de precisar se enquadrar em apenas um gênero.
O entrecruzamento de abordagens, portanto, é uma virtude potencializada pela série, principalmente quando a comédia se instala de vez e a diretora Kate Herron reforça ainda mais o humor de situações contraditórias. As piadas estão mais orgânicas e consolidadas no fluxo da narrativa, também seguindo a perspectiva de contrapor ordem e caos por conta da presença desestabilizadora de Loki em um ambiente que preza pela estabilidade e pela conformação. Assim, é curioso imaginar como o Deus da Trapaça precisaria se comportar tendo que assistir inúmeros vídeos exaustivos para compreender como funciona a organização das linhas temporais no universo; aceitar a burocracia de longos e intermináveis arquivos nem sempre com dados tão relevantes, enquanto outros cruciais são categorizados como confidenciais; e gerar antipatia da funcionária da biblioteca por não parar de falar mesmo em momentos em que o silêncio é fundamental.
O sucesso do humor também está diretamente relacionado à dinâmica cada vez mais forte entre Tom Hiddleston e Owen Wilson. Se no episódio anterior a conversa entre as personagens na sala de Mobius sobre a natureza de Loki e o conceito de vilão era uma dos grandes destaques, “A variante” traz outros momentos cômicos bem sucedidos para eles, que flertam com o drama, fazem avançar o arco dramático de cada um deles ou abordam discussões mais densas. Por exemplo, eles fazem um duelo de manipulação, cabendo a Loki tentar controlar os rumos da investigação para conseguir uma reunião com os Guardiões do Tempo e salvar a própria pele e a Mobius mexer com o ego do deus nórdico para continuar tendo à sua disposição as habilidades dele; e discutem a respeito da vida ser ou não fruto da aleatoriedade do caos ou do controle da ordem. E para satisfazer a expectativa por outra cena de humor mais explícito, há ainda a conversa nonsense na lanchonete em que Loki explica sua teoria para Mobius usando os alimentos disponíveis nas mesas próximas.
Mesmo nos elementos aparentemente mais discretos, é possível perceber o contraste entre ordem e caos. O design de produção da agência ganha detalhes mais sofisticados à medida que novos espaços são apresentados, como a biblioteca e corredores de um aposento para outro, que vão além da caracterização de um simples escritório comum. No primeiro capítulo, muitas locações já evidenciavam o senso de burocracia que preenche os processos e os funcionários da AVT, mas dessa vez são introduzidos aspectos que conferem uma atmosfera mítica ou tecnológica/futurista (as estátuas dos Guardiões do Tempo na sala de uma das funcionárias, a arquitetura de determinados ambientes que remete a “Metrópolis” e o cenário distópico evocativo de “Blade Runner“).
É justamente o encontro entre qualidades já vistas anteriormente e méritos adicionados agora que faz a série manter o impacto positivo da abertura, algo bastante presente na sequência final que revela o antagonista e reorienta a ameaça para outros níveis. A montagem paralela e a direção da ação podem não reforçar a tensão ou a intensidade que aqueles momentos ofereciam, porém as possibilidades abertas pela execução dos planos do vilão, suas consequências e as sugestões da criação de um multiverso mais complexo estão acima de eventuais instabilidades na condução da ação. E no que se refere ao seu protagonista e ao estilo da obra, o segundo capítulo de “Loki” amplia um potencial narrativo e estético que deixa a curiosidade pelo que vem pela frente.
Um resultado de todos os filmes que já viu.