“LAF” – Quando o trabalho se torna uma prisão [FCI 2024]
LAF é uma obra contundente que explora, de forma nua e crua, a realidade de assédio moral e confinamento psicológico no ambiente de trabalho. O filme expõe o impacto devastador que o sistema corporativo pode ter sobre seus funcionários ao usar estratégias de controle e manipulação para subjugá-los, especialmente aqueles que resistem ao poder hierárquico. Ao abordar a história de um operário utilizado como peça em um jogo de opressão, o longa desafia o público a refletir sobre os efeitos destrutivos de ambientes profissionais tóxicos e abusivos, em que a dignidade humana é constantemente posta à prova.
A trama acompanha Caterino, um trabalhador de fábrica na cidade de Taranto, na Itália, que é convocado pela empresa para espionar seus colegas e reportar aqueles considerados “inadequados” ou “problemáticos”. Nessa missão, ele é transferido para um setor isolado, conhecido como Palazzino LAF, onde trabalhadores “rebeldes” são postos em uma espécie de exílio psicológico, sem funções designadas e forçados a enfrentar uma rotina vazia e alienante. O que parece ser um período de descanso se revela, na verdade, uma estratégia calculada para minar a resistência e a autoestima dos funcionários, levando-os à exaustão mental e à alienação.
Com a direção e atuação de Michele Riondino, que interpreta o protagonista Caterino, o filme é conduzido com precisão, e os conflitos internos do personagem ganham peso e profundidade. Elio Germano, no papel de Giancarlo Basile, merece destaque ao trazer uma carga dramática forte e realista ao sofrimento psicológico dos trabalhadores, conferindo autenticidade ao tema delicado e sombrio do confinamento. Vanessa Scalera, como Tiziana Lagioia, e Domenico Fortunato, como Angelo Caramia, completam o elenco de maneira eficaz.
Apesar de suas qualidades, o filme apresenta algumas limitações. A introdução dos prédios Palazzino como prisões psicológicas, por exemplo, demora a se explicar, o que pode deixar o público confuso sobre o propósito desse isolamento forçado e seu impacto sobre os trabalhadores. Além disso, o desfecho da trama é conduzido de forma apressada, sem explorar mais profundamente as consequências das pressões psicológicas impostas aos personagens. Um final mais bem desenvolvido poderia ter potencializado a mensagem do filme e conferido maior profundidade ao sofrimento vivenciado pelos personagens.
Ainda assim,o longa se destaca por sua coragem em tratar de um tema pouco explorado no cinema: a brutalidade do ambiente corporativo e os danos psicológicos infligidos aos funcionários. O trabalho do diretor oferece uma visão crítica e intensa da questão, e o elenco consegue transmitir com veracidade a angústia dos trabalhadores confinados. Mesmo com alguns tropeços narrativos, é uma obra relevante que não se esquiva de expor o lado sombrio do mundo corporativo, incentivando uma reflexão sobre os limites entre o dever profissional e a dignidade humana.
“LAF” reafirma a tese de que o ambiente de trabalho, em vez de ser um espaço de realização pessoal, pode se tornar um verdadeiro campo de batalha psicológico. Ao evidenciar as táticas de controle e desmoralização empregadas pela empresa, o filme relembra ao espectador o valor da dignidade e da resistência frente a um sistema que se aproveita da fragilidade humana em busca de lucro e produtividade, deixando, assim, uma marca de alerta sobre a toxicidade de ambientes profissionais abusivos.
* Filme assistido durante a cobertura do Festival de Cinema Italiano 2024.