“JURASSIC PARK III” – Desgaste na franquia
Obs. (1): para ler a nossa crítica de “Jurassic Park: o Parque dos Dinossauros” (1993), clique aqui.
Obs. (2): para ler a nossa crítica de “O mundo perdido: Jurassic Park” (1997), clique aqui.
Não há como negar que a franquia “Jurassic Park” é extremamente popular. O primeiro filme (de 1993) teve um impacto considerável na história dos blockbusters e dos efeitos visuais, conseguindo formar uma legião de fãs. Provavelmente, o desejo de prolongar o sucesso levou a continuações que nem se aproximaram do que o original representou. “O mundo perdido: Jurassic Park” se sustentou apenas pelo carisma de Jeff Goldblum e por alguns momentos inspirados da direção de Steven Spielberg. Já JURASSIC PARK III oferece ainda menos inspiração e sinais de que seu título não mais seria sinônimo automático de qualidade.
A trama traz de volta o paleontólogo Alan Grant, dessa vez contratado por uma casal de milionários, Paul e Amanda Kirby, para conduzi-los por uma excursão aérea sobre a ilha Sorna tomada por dinossauros. Porém, durante a viagem, o Dr. Alan descobre o real propósito daquela viagem: reencontrar o filho do casal, desaparecido naquele local após um acidente. O primeiro problema da produção já salta aos olhos nos minutos iniciais da projeção: qualquer discussão temática presente nos dois primeiros longas é esvaziada aqui. Se o filme de 1993 trazia debates acerca das contradições em torno dos anseios criadores do homem e sua continuação de 1997 debatia a ganância humana atrás dos lucros pelo desconhecido, o terceiro se torna apenas uma história de resgate e sobrevivência. Assim, a forma encontrada pelo roteiro para levá-los à ilha e deixá-los presos lá é preguiçosa e pobre se comparada ao restante da franquia (no fim das contas, tudo se resume a um fracassado turismo de aventura). E os miniconflitos em torno da crise do casal e sua reconciliação também são mal trabalhados e desinteressantes dentro do arco dos personagens.
Descuidos na construção temática poderiam ser relevados se, ao menos, a narrativa passada na ilha se sustentasse – algo que não ocorre. Somos arremessados ali sem qualquer tipo de preparação dramática (basta observar que os personagens já estão fugindo dos dinossauros com 20 minutos de projeção) e precisamos acompanhar a maioria de personagens fracos e entediantes cometendo sucessivos erros bobos. Gritos, mesmo sob o alerta de que poderiam atrair as criaturas, desculpas para separar o grupo e comportamentos inverossímeis se multiplicam na tela e exigem do público paciência e uma boa dose de suspensão de descrença. O aspecto que poderia ter sido melhor utilizado é desenvolvido de maneira igualmente boba: Alan vinha estudando a inteligência dos velociraptors e sua capacidade de organização em bandos e o filme nos entrega sequências infantis em que as criaturas conversam.
Os problemas narrativos também decorrem de uma direção discreta de Joe Johnston. O cineasta responsável por histórias divertidas de apuro visual (“Rocketeer” e “Jumanji“, por exemplo) não consegue repetir aqui suas características recorrentes. O trabalho de direção dos atores é insuficiente porque traz personagens unidimensionais praticamente sem conflitos relevantes – mesmo o protagonista aparece como um rascunho simplificado do que era. Em relação à construção das sequências de ação, o diretor falha na preparação do suspense e não cria momentos de tensão e ameaça antes do ataque dos dinossauros – na realidade, conseguimos antecipar de onde vem o ataque ou somos surpreendidos pela ação sem, com isso, sentirmos uma apreensão crescente.
A própria criação dos personagens já nasce problemática. Alan Grant, vivido por Sam Neill, é o mais interessante, apesar de não ter tanta evolução dramática – basicamente, aparece como o estudioso ainda interessado nos dinossauros, experiente no trabalho de campo e contrariado com os riscos corridos por outras pessoas por não temer como deveriam aquelas criaturas. O casal formado por Paul, vivido por William H. Macy, e Amanda Kirby, vivida por Téa Leoni, não tem camadas variadas e só existe em função do desespero pela busca do filho – destacam-se negativamente a dificuldade de trabalhar a contento as brigas e crise do casal e o aspecto histérico de Amanda, a todo momento gritando a plenos pulmões. O assistente de Alan, Billy Brennan, vivido por Alessandro Nivola, poderia ter algum desenvolvimento em função de um sequência em que sua ambição juvenil promove uma pequena reviravolta na trama, mas nada acontece. Ellie Sattler, vivida por Laura Dern, aparece em pequenas pontas e já cria a sensação de que, mesmo no pouco tempo de tela, é melhor do que a maioria dos outros atores. E o jovem Eric Kirby, vivido por Trevor Morgan, é mais interessante que os demais por criar uma criança independente que aprende como sobreviver sozinho na ilha.
Em relação aos aspectos técnicos, há altos e baixos. A trilha sonora não traz temas novos marcantes que possam ser lembrados ao fim da projeção, contudo acerta em resgatar o clássico “Theme from Jurassick Park” e colocá-lo em momentos pontuais para evocar a nostalgia do primeiro filme e o deslumbramento daqueles grandes ambientes. Já os efeitos visuais abusam do CGI e tornam o aspecto das criaturas mais artificiais, especialmente quando Joe Johnston constrói planos muito abertos durante o dia e sequências grandiosas de ação. Quando os planos são fechados em torno dos dinossauros, o grau de detalhamento dos animais impressiona.
“Jurassic Park III” acaba pertencendo à franquia muito mais pelo nome do que por méritos próprios. A sensação de nostalgia não pode esconder os problemas temáticos e narrativos que possui. Até porque abordá-los torna mais fresco na memória como o original se tornou um clássico em Hollywood. E nenhuma continuação sem inspiração estragaria esse fato.
Um resultado de todos os filmes que já viu.