“JEXI: UM CELULAR SEM FILTRO” – Disparate audiovisual
Pense em um filme que se esforça para ser idiota. Exemplos não faltam, certo? Adicione mais um na lista: JEXI: UM CELULAR SEM FILTRO.
O protagonista é um jovem sem vida social aficcionado pelo uso da tecnologia do celular, onde encontra tudo que precisa. Após um incidente, ele adquire um novo aparelho, cuja inteligência artificial, Jexi, é muito mais avançada que as anteriores. Tudo se complica quando Jexi quer tomar conta da vida de Phil, aumentando sua dependência em relação ao aparelho e afastando-o de potenciais relacionamentos com pessoas reais.
Trata-se de uma mistura dos piores elementos de “Ted” (uma companhia surreal para o protagonista, disposta a desferir o melhor acervo possível de termos de baixo calão) e “Click” (o perigo de querer facilitar a própria vida com a tecnologia), mirando quiçá no maravilhoso “Ela” e acertando em muitos degraus abaixo do fraco “O círculo”.
O que ele tem de tão ruim? Praticamente tudo.
Proposto como uma comédia, “Jexi” tenta utilizar diversos estilos de humor, sem êxito em todas as tentativas. Por vezes, utiliza-se da comédia observacional para extrair uma crítica social, como nos minutos seguintes ao prólogo, em que Phil é rodeado de pessoas “grudadas” em seus celulares e ignorando o mundo à sua volta. Em cenas desse tipo, o didatismo é tão escancarado e aliado a uma obviedade gritante que se torna desinteressante.
Pior ainda quando o viés humorístico é ofensivo ao espectador, em especial no humor de constrangimento, como nas piadas corporais de Michael Peña, que dá, sem sentido algum, golpes no ar, e promove danças vexatórias. Adam DeVine, em tese, está em um papel mais sério e realista, porém a infantilidade de Phil é desconcertante. Peña e DeVine estão (como de costume, a bem da verdade) extremamente forçados.
Quanto a Alexandra Shipp e Wanda Sykes, são desperdiçadas: a primeira, porque seu carisma autêntico de nada vale em um papel grosseiramente clichê; a segunda, porque seu humor inteligente é limitado a uma comparação óbvia entre um toxicômano e um viciado em celular. Inteligente foi a Rose Byrne, que participou da produção sem precisar se envergonhar mostrando o próprio rosto (já que apenas dubla Jexi).
O texto de Jon Lucas e Scott Moore – que também dirigiram a pérola -, quando está prestes a fazer o público dormir, cita aleatoriamente o Brasil. Para nada inteligente, é claro. A fala de Cate, segundo a qual as pessoas usam as redes sociais para fazer com que a vida pareça diferente do que realmente é, se revela um ótimo exemplo da estupidez de um roteiro incapaz de abordar um assunto oportuno.
Sem dúvida, alertar as pessoas sobre os perigos da tecnologia é um mote louvável no audiovisual. O problema de “Jexi” é sua artificialidade patente. Mais especificamente, o longa transita entre o bizarro (sexo com celular? É sério?), a imbecilidade (como na piada com Ryan Gosling) e o óbvio (a metáfora do trabalho no subsolo em razão do rebaixamento profissional é ridícula). Unindo-se a isso uma trilha musical que grita, metonimicamente, palavras como “pós-modernidade” e “tecnologia”, está pronto o disparate.
Excepcionalmente, o filme não receberá nota (e nem é necessário explicar o porquê…).