“JÁ NÃO ME SINTO EM CASA NESSE MUNDO” – Percebendo-se no mundo
Certamente, para se obter a melhor experiência possível com JÁ NÃO ME SINTO EM CASA NESSE MUNDO, o ideal é assistir a ele sem nenhuma informação, sem ter visto o trailer, lido a sinopse, ou qualquer outro tipo de spoiler. Apenas confiando na recomendação de alguém, pois esse filme pode surpreender muito.
A personagem principal é Ruth, uma determinada assistente de enfermagem que leva uma vida complicada. Ao chegar à sua casa e notar que foi vítima de um assalto, Ruth decide não se conformar com aquilo do jeito que ela se conforma com tantas outras coisas em sua vida. Com total seriedade e determinação e, claro, sem a ajuda da policia, que não se empenhou no caso, ela inicia uma investigação por conta própria.
O longa tem foco na investigação de Ruth e, em paralelo, o ponto de vista do assaltante. Mesmo sem muitas informações sobre a protagonista, facilmente é possível criar empatia com a personagem e entender suas motivações em sua jornada. Por outro lado, não se pode dizer o mesmo do coadjuvante, Tony: mesmo sendo intencional a estranha introdução do personagem na história, é difícil compreender o objetivo do personagem.
Escrito por Macon Blair, o longa possui um problema de ritmo: no primeiro ato, a história flui de maneira lenta, até entrar no segundo ato, quando acerta o ritmo ideal. Melanie Lynskey, que interpreta a protagonista, demonstra com eficácia a essência de perdida no mundo de Ruth e a sua bravura armazenada por dentro. Elijah Wood em seu histórico de trabalho costuma interpretar personagens menos convencionais, como neste filme, dessa forma, sua experiência traz um desempenho que é esperado.
Apesar de a trama encenar pessoas que enfrentam criminosos numa tentativa de se tornar vigilantes, muitas outras reflexões são inseridas na história. A incompreensão por parte de Ruth de como pode ser normal a forma como as relações entre os seres humanos acontecem, como cada pessoa, em diversos momentos, se coloca em um estado conformista com as injustiças que acontecem.
A saída da zona de conforto da personagem principal, com o objetivo de obter justiça, traz um olhar alienado – como se aquela personalidade não vivesse nesse mundo e, ao se perceber lá, ela desperta em si uma certeza de que aquele não é seu lugar, e a convicção global de que não é a realidade ideal para viver.
Quando os dois núcleos da narrativa, que antes aconteciam em paralelo, se encontram e tornam-se um só, o filme ganha um ritmo perfeito. Nesse momento, mais do que antes, cenas inesperadas ocupam a tela. Apesar da trama do roteiro não ser inusitada, o trabalho de direção (que também é de Macon Blair) é ótimo e convoca a atenção especial do espectador. A trilha sonora, apesar de não ser um dos grandes destaques, cumpre uma função de trabalho da imersão da audiência, além de divertir com a sonoridade do longa.
Em toda a duração do filme, há pontos de comédia, inicialmente muito sutis, mas que ganham intensidade no decorrer da história. A diversão em êxtase vem inesperadamente quando fundem comédia e ação em uma cena só, mais de uma vez, e todas as vezes o sentimento despertado é o mesmo. Uma mistura de tensão e vontade de rir se mistura e assim inicia a conclusão insana da história de Ruth.
A paixão pela sétima arte é uma das partes que somam meu todo.