“HOMEM-FORMIGA E A VESPA” – Um pequeno salto de qualidade
“Homem-Formiga” não foi um filme capaz de ficar na memória do público. No máximo, proporcionou alguma diversão passageira em suas duas horas de projeção e logo já era esquecido ao se deixar a sala de cinema. Não que sua continuação HOMEM-FORMIGA E A VESPA consiga ser uma experiência inesquecível ou um dos melhores títulos da Marvel Studios, mas apresenta alguns pontos de evolução em comparação ao seu predecessor.
Seguindo os acontecimentos subsequentes ao primeiro filme, Scott Lang lida com as consequências de suas escolhas tanto como super-herói quanto como pai. Enquanto tenta reequilibrar sua vida com suas responsabilidades como o Homem-Formiga, ele é confrontado por Hope Van Dyne e Dr. Hank Pym com uma nova missão urgente. Em certo sentido, a escolha por uma aventura autocontida se revela um acerto após a magnitude de “Vingadores: guerra infinita“: a sensação de ser uma aventura da semana, episódica, combina com a simplicidade e a despretensão do personagem e permite à obra explorar aspectos que tornam o primeiro ato eficiente e divertido. A dinâmica conflituosa entre os personagens principais e as situações em que eles se encontram é um reflexo do momento atual do universo Marvel; a trama aprofunda sobre o tema família (nas relações entre Scott Lang e sua filha e entre Hope e Hank) e investe ainda mais no quesito ficção científica ao envolver o universo quântico e a necessidade de os personagens lidarem com seus perigos; e a vilã Fantasma, criada a partir de uma falha de Hank, é multifacetada, muito mais complexa do que o vilão do filme anterior e tendo motivações humanas que não se resume a planos megalomaníacos de dominação do mundo.
Outros pontos positivos dentro primeiro ato dizem respeito à criatividade do diretor Peyton Reed na condução das sequências de ação e a melhor composição dos personagens de Hope e Hank. O cineasta volta a empregar recursos usados no longa anterior (slow motion, grande profundidade de campo e cortes para ressaltar os contrastes entre a elevação ou redução abrupta de sons ou de tamanhos de objetos e pessoas) sem repetições cansativas, mas também cria soluções visuais diferentes – a adição de uma personagem que transita entre diferentes estados da matéria permite a inclusão de flashes e movimentos coreográficos únicos. Já os atores Michael Douglas e Evangeline Lilly possuem um material melhor: além de compartilharem o desejo pela reestruturação da sua família, o ator está na medida certa de ironia e prepotência, enquanto a atriz se sai muito bem no trabalho físico nas lutas corpo a corpo.
Quando a narrativa avança para o segundo ato, graves problemas aparecem. Um deles está no excesso de piadas, numa intensidade prejudicial ao desenvolvimento dos conflitos dramáticos e das sequências de ação – há, por exemplo, uma sequência absolutamente descartável passada numa escola com o intuito de tentar arrancar risadas, sem qualquer função narrativa. Esse problema é sentido também no grupo de amigos de Scott e no vilão secundário do filme: nenhuma piada nos dois núcleos funciona e estes acabam travando a trama. É um excesso de subtramas criadas para tentar oferecer algo aos companheiros carismáticos do protagonista (mesmo quando não há ideias interessantes) ou para dar propósito a um tipo distinto de ameaça que não diz a que veio (em dado momento, um personagem comenta para o vilão secundário “você de novo aqui?”, algo que o próprio público pode se perguntar a todo instante também)
A dispersão da narrativa é o resultado negativo da falta de cuidado do segundo ato. Várias sequências são construídas de maneira pobre visualmente, seja por diálogos expositivos, seja por uma direção pouca atenta à mise en scène e à criação dramática da ameaça . Tais deficiências mostram um Paul Rudd dependente de seu carisma por ter um personagem sem qualquer arco dramático (o protagonista inicia a história de uma maneira e não podemos afirmar que tenha havido algum alteração em sua trajetória) e um Michael Peña carente de boas piadas que recorre insistentemente num tom de voz acelerado para gerar o humor (a única piada que salva é uma reciclada do filme anterior).
Em termos gerais, os efeitos de CGI são uma das qualidades do filme. O processo de rejuvenescimento de Michael Douglas e de Michelle Pfeiffer (atriz que interpreta sua esposa) é impressionante e a computação gráfica explora bem as potencialidades dos poderes de encolhimento/crescimento e de manipulação da matéria – a combinação entre efeitos visuais e design de produção dos cenários (especialmente o laboratório de Hank) acentua a dimensão de ficção científica. Falta ao filme, contudo, utilizar o 3D no momento mais oportuno: durante a incursão ao universo quântico para valorizar suas formas e cores.
Ao elencar acertos e defeitos, essa continuação melhora em relação ao original. Nada muito especial. Afinal, a saída da sessão pensando muito mais na cena pós-crédito do que em “Homem-Formiga e a Vespa” propriamente dito quer dizer algo.
Um resultado de todos os filmes que já viu.