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“G20” – Quando a urgência é só superficial

Quando um filme se propõe a explorar o cruzamento entre geopolítica, terrorismo e liderança em tempos de crise, espera-se algo mais do que apenas explosões e frases de efeito. Esses elementos podem até funcionar como dispositivos de tensão, mas, quando isolados, revelam a superficialidade de uma narrativa que poderia ser muito mais impactante. G20 nasce com uma premissa potente: refletir sobre as fragilidades do mundo contemporâneo por meio de um cenário de ataque em plena cúpula das maiores potências globais. A proposta é atual, provocativa e repleta de possibilidades dramáticas e simbólicas. No entanto, o problema não está na falta de ambição, mas na forma como essa ambição é traduzida em tela. A produção tenta construir uma narrativa de urgência e heroísmo em torno de uma protagonista em situação extrema, mas acaba tropeçando em clichês.

A trama acompanha um ataque violento durante a cúpula do G20, uma reunião de líderes das principais nações do mundo. Em meio ao caos, a presidente dos Estados Unidos consegue escapar por pouco do cerco montado pelos invasores. Isolada e sendo o principal alvo dos criminosos, ela precisa encontrar uma forma de proteger sua família, salvar os líderes sequestrados e impedir um plano que pode desestabilizar a economia global. A partir disso, o filme se desenrola como uma corrida contra o tempo, com cenas de ação, dilemas éticos e confrontos pessoais.

(© Amazon Prime Video/ Divulgação)

Mesmo com nomes de peso envolvidos, o longa parece não saber como lidar com o material que tem em mãos. A direção de Patricia Riggen é tecnicamente competente, mas pouco inspirada, apoiando-se em convenções visuais e escolhas narrativas que remetem a produções genéricas de ação. A estética do filme é limpa, o ritmo é ágil, mas falta identidade. Em vez de explorar o drama contido na situação — a tensão entre países, o simbolismo de uma mulher no comando, o terror psicológico de um sequestro coletivo —, a narrativa se apressa em resolver tudo com tiros, perseguições e frases de efeito.

O roteiro desperdiça a oportunidade de aprofundar os conflitos políticos e morais que a trama sugere. Existe, por exemplo, a figura de um vilão com passado militar e motivações econômicas que poderiam ser complexas. Mas o personagem, interpretado por Antony Starr, acaba reduzido a um antagonista previsível, que emula discursos populistas enquanto executa um plano megalomaníaco sem muitas camadas. A tentativa de adicionar alguma crítica ao sistema globalizado se perde em meio a soluções apressadas e cenas de impacto que não sustentam o peso dramático que deveriam carregar.

Viola Davis interpreta a presidente Danielle Sutton com a dignidade e a intensidade que lhe são características. Ainda assim, sua atuação parece sufocada por um roteiro que não lhe oferece espaço para nuances. A personagem, que tinha potencial para se tornar uma figura marcante no gênero, é tratada mais como uma heroína de ação genérica do que como uma líder política diante de uma catástrofe. Há breves momentos de emoção e dúvida, mas eles são rapidamente superados por uma montagem que prioriza a ação contínua em detrimento da construção de tensão ou empatia. Anthony Anderson vive o marido da presidente, mas seu personagem acaba limitado a poucas cenas e diálogos, servindo apenas como motivação emocional pontual, sem conseguir imprimir qualquer relevância real à narrativa. Já os demais líderes presentes na cúpula são personagens sem rosto, sem voz, e que servem apenas como pano de fundo para as decisões da protagonista. A ausência de conflitos reais entre as potências mundiais em um cenário tão carregado é outro ponto que esvazia a proposta. Mesmo o dilema pessoal da protagonista — dividir-se entre o dever institucional e a segurança da própria família — não ganha a densidade emocional que poderia ter.

“G20” é um exemplo claro de como uma boa ideia pode ser desperdiçada quando o foco está apenas na superfície. A presença de uma atriz potente no centro da trama não é suficiente para sustentar um filme que prefere seguir fórmulas do que arriscar em profundidade. Apesar de algumas sequências de ação bem executadas, o resultado final é morno, previsível e frustrante. Um filme que promete intensidade e relevância, mas entrega pouco além do esperado.