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“FORÇA BRUTA: PUNIÇÃO” – O pecado de um universo em franquia

Em 2017, foi lançado o primeiro título de uma franquia de comédia de ação sul-coreana. O protagonista é um policial de métodos violentos que acredita que as investigações sempre serão resolvidas através do uso da força física e da violência. O início foi com “Cidade do crime” e, em seguida, vieram “Força bruta” (2022) e “Força bruta: Sem saída” (2023) e o mais novo filme FORÇA BRUTA: PUNIÇÃO. O lançamento do quarto filme sofre com as repetições do universo, não como escolha estilística, mas como limitação dramática e narrativa.

(© Sato Company / Divulgação)

A investigação da vez para o detetive Ma Seok-do envolve o assassinato de um desenvolvedor de aplicativos filipinos. Com o apoio de sua equipe, ele descobre a participação de um homem poderoso em esquemas ilegais de jogos online de azar. A descoberta os coloca frente a frente com uma gangue de mercenários que ameaça a vida de todos os envolvidos, inclusive dos próprios criminosos.

Ma seok-Do é o elemento definidor da franquia para o bem e para o mal. O ator Dong-seok Ma tem uma presença física muito expressiva quando entra em cena, uma característica que vale para a preparação das sequências de ação e para as coreografias de lutas. Em cada obra, são muitos os momentos em que o personagem precisa lutar com um suspeito, obter uma informação importante ou impedir o plano dos vilões. Além disso, o detetive também é trabalhado sob a chave do humor, por vezes de forma pouco controversa porque aproveita o desdém com o qual é considerado incapaz de lutar. Em contrapartida, a comédia em torno dele pode abrir brechas para diminuir o peso ou até negar os problemas de suas atitudes truculentas. Piadas são feitas sobre praticar torturas nos interrogatórios, manipular suspeitos ou informantes e aceitar propina.

Não há muita diferença na descrição do protagonista nem na estrutura narrativa. Algumas sequências são idênticas e a abordagem da trama possui semelhanças significativas em relação ao filme anterior. Em ambos, mesmo que os crimes sejam diferentes, o roteiro cria um antagonista para Ma seok-Do, faz com que eles se conheçam em uma das set pieces de ação interrompida sem o desfecho da luta e se encerra com um confronto no interior de um veículo com limitações espaciais. Ao longo dessas etapas muito bem demarcadas, ocorre ainda um plano da polícia para enganar os criminosos com uma armadilha para capturá-los. A sequência inicial que consiste em uma perseguição à noite pelas ruas de uma cidade oriental parece uma repetição exata da abertura de “Força bruta: Sem saída“. Torna-se difícil afastar a sensação de estar diante de um universo que não se expande nem desenvolve os personagens, mas apenas tenta dar uma embalagem um pouco diferente para o mesmo conteúdo.

A embalagem pode parecer outra na superfície, porém qualquer sugestão de originalidade se esgota rapidamente. A princípio, a trama pretende explorar o alcance amplo dos crimes no mundo digital e as dificuldades para rastreá-los. Ao mesmo tempo, seria possível imaginar que a narrativa fosse aprofundar os contrastes entre Ma Seok-do e Baek-Chang-gi (líder dos mercenários interpretado por Mu Yeol-Kim), antagonistas que se encontram na postura resistente às novas tecnologias, e uma realidade que utiliza as ferramentas digitais para resolver qualquer questão na contemporaneidade. As duas possibilidades duram pouco tempo e não passam de indicações não concretizadas de dinâmicas que são notadas, mas não sentidas a fundo. Em outras passagens, o humor aparece para representar alguma surpresa durante a ação policial, como na investida para prender traficantes em uma sala inesperadamente gradeada. No geral, as piadas sobre a ignorância do detetive em tudo que se refere a tecnologias digitais dependem muito do texto, das linhas de diálogo e não se traduz na encenação.

Se a comédia tem dificuldades para se integrar à narrativa, a ação não empolga como seria seu maior objetivo. Este gênero cinematográfico predominante pode conter algumas ideias interessantes, como a criação de uma diegese que, a despeito do conflito em questão, faz a conclusão ser uma confronto corporal. A investigação pode seguir qualquer caminho que, inevitavelmente, conduz a uma cena de luta. O problema fica por conta da construção estética das coreografias. A impressão de repetir algo visto nos demais filmes ganha um acréscimo negativo, pois falta inspiração. Em “Força bruta: sem saída“, o estilo da decupagem oscila entre o efeito de realismo da construção dos golpes, a imagem de um ser fantástico para o protagonista e o aproveitamento do espaço para a elevação da intensidade da ameaça. O diretor Heo Myeong Haeng não utiliza as locações de maneira inventiva nem propõe sequências minimamente marcantes. O movimento dos atores, a escolha por poucos cortes durante a filmagem da ação e o fluxo moderado da câmera pelo espaço cênico são feitos com uma obrigação protocolar que não provoca adrenalina nem contemplação entusiasmada da construção estilística.