“FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL” [1X05] – Conflito de escalas
Para todos os efeitos, o quinto episódio de FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL exemplifica o melhor e o pior da série. A trama retoma o descontrole de John Walker ao assassinar um dos membros dos Apátridas e os desdobramentos do fato de o mundo ter observado a incapacidade desse homem ser o novo Capitão América. Logo, a primeira sequência mostra a luta entre ele, Sam e Bucky pela posse do escudo (e de sua simbologia) – o confronto é encenado com a força necessária para demonstrar os impactos dos golpes, mas recai em artifícios repetitivos e redundantes ao ter tantos enquadramentos do escudo ensanguentado e focos de luz natural iluminando as reviravoltas da situação.
A maneira como a sequência é filmada prenuncia o defeito da obra em querer ampliar o universo Marvel em maiores proporções. Isso fica mais evidente no núcleo de John Walker, punido com a perda do escudo e o desligamento das Forças Armadas por uma junta política e militar. Wyatt Russell até evoca a raiva do personagem que insiste estar sempre agindo forçado pelas circunstâncias, porém o desenvolvimento de seu arco dramático possui elementos introduzidos sem ligação entre si: crítica à alta hierarquia militar sem que fosse algo construído desde o princípio e a aparição de uma personagem misteriosa que mais parece um estímulo aos fãs teorizarem sobre futuras conexões com os quadrinhos e expansões do MCU em novos projetos.
Se o início do capítulo peca por fazer relações que ultrapassam a própria produção e deixam pontos isolados, a maior parte da narrativa progride e acerta quando prioriza aspectos mais íntimos dos personagens. O grande beneficiado dessa redução sutil de escala é Sam, embora os realizadores sintam a necessidade de expor didaticamente que ele está deixando as asas do Falcão para trás para assumir o manto do Capitão América. Ao recuperar o escudo, atravessa uma jornada relutante de ser ou não o sucessor de Steve Rogers principalmente devido ao fato de saber como os EUA já trataram heróis negros antes – faz toda a diferença o retorno de Sam para Baltimore para conversar com Isaiah, diálogo revelador de um passado comprometido pelas mazelas da escravidão e da segregação racial no país.
Outro beneficiado por um episódio menos voltado para a ação é Bucky. Inicialmente, ele precisa atuar para resolver a fuga de Zemo contando com o apoio das guerreiras de Wakanda, o que mais parece um momento obrigatório sem maiores contribuições para o tom do capítulo. Em seguida, ele enfim apresenta avanços em relação a seus conflitos por ter sido um assassino programado para matar, percebendo com o auxílio de Sam que as supostas reparações que fazia não o deixavam satisfeito. Essa reorientação do personagem incluiu também a consciência de que seu colega teve (e ainda tem) dúvidas em ser o novo Capitão América – assim, a expectativa de o antigo Soldado Invernal se tornar o Lobo Americano fica mais palpável.
É possível também notar que a parceria entre Sam e Bucky convence muito mais sem referências ao buddy cop ou tentativas de piadas deslocadas. Sam volta para a casa de sua irmã e interage novamente com os familiares ou amigos, vivenciando momentos cotidianos importantes para sua transformação dramática; e quando Bucky vai ao mesmo local, a cumplicidade entre eles finalmente se torna espontânea. É o que ocorre nas cenas simples em que trabalham juntos no conserto do barco da família de Sam e em que conversam sobre suas emoções, Steve Rogers e os desafios de ser um símbolo de inspiração para todos enquanto arremessam e seguram o escudo do Capitão América.
“Verdade” poderia ser um episódio mais efetivo se mantivesse o que ele tem de melhor: a força do intimismo e de uma dimensão mais contida das relações simples e profundas entre os personagens. Entretanto, também há passagens e escolhas que desencadeiam o que a série tem de mais problemático: o escopo de uma história que não se fecha a contento. Esse último aspecto se manifesta na conclusão que resgata os Apátridas, ainda sem um desenvolvimento significativo para sua líder e para o grupo, e um contexto de votação sobre os refugiados por autoridades do Conselho de Repatriação Global, que cai de paraquedas na narrativa. Mais uma vez, “Falcão e o Soldado Invernal” não consegue equilibrar tão bem as questões sensíveis e complexas de uma história sobre o valor dos símbolos com os aspectos tradicionais de um universo Marvel compartilhado.
Um resultado de todos os filmes que já viu.