“COBRA KAI” [5ª TEMPORADA] – O cerco está se fechando
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Nas duas primeiras temporadas, a questão era a retomada de antigas rivalidades sob um novo cenário. Na terceira, os novos e antigos personagens se encontram em um momento de profunda crise dramática. Na quarta, o futuro começa a despontar como um dilema entre jovens e adultos. Já na quinta temporada, COBRA KAI demonstra que o cerco está se fechando. O vilão pretende levar seu plano adiante para uma proporção ainda maior, os protagonistas se colocam como uma força de resistência pelo bem da região e a série enfrenta os dilemas de precisar encaminhar seu final.
Após vencer o Torneio Regional, o dojô liderado por Terry Silver parece ter atingido o auge. Mais jovens se interessam em se inscrever no Cobra Kai e seu sensei planeja expandir o método de “sem compaixão” por todo o mundo. Esta situação pode gerar consequências devastadoras, principalmente porque John Kreese está preso e Johnny Lawrence se distancia do caratê para reparar seus problemas familiares. Então, resta a Daniel LaRusso impedir os planos do vilão, recorrendo à ajuda de uma pessoa de seu passado.
Diferentemente das demais temporadas, esta nova faz boa parte de sua narrativa fluir em torno somente de um conflito: os projetos ambiciosos de Terry Silver para o Cobra Kai e a oposição expressa por LaRusso contra o crescimento de uma visão problemática do esporte. No fundo, o embate diz respeito a qual das duas filosofias estenderá sua influência sobre San Fernando Valley, aquela mais violenta e egoísta do primeiro ou honrada e generosa do segundo. O confronto entre eles é o fio condutor do dez episódios beneficiado pelas atuações de Thomas Ian Griffith e Ralph Macchio, ao mesmo tempo que enfraquece outros núcleos e subtramas a ponto de serem marginalizadas ou precarizadas. É o que acontece com o fato de Kreese estar preso por algo que não fez, Chozen sair do Japão para ajudar LaRusso e Lawrence formar sua própria família. Embora Yuji Okumoto e William Zabka sejam hábeis em lidar com o humor dos personagens, seus arcos são deixados de lado por muito tempo.
Como exemplos da fragilidade dos núcleos protagonizados pelos adultos, Chozen se enfraquece como um mero ajudante e não tem tanta chance de mostrar as relações contraditórias com LaRusso nem suas próprias questões emocionais do passado. E Lawrence se torna coadjuvante de sua própria história de se reaproximar de Robbie e tem pouco tempo de tela para desenvolver um novo estágio do relacionamento entre ele e Carmen. Ambos os personagens aparecem muito mais como acessórios no embate entre Terry Silver e Daniel LaRusso. Além disso, a quinta temporada dispensa a utilização expressiva dos flashbacks nostálgicos dos filmes “Karatê Kid” como se podia observar anteriormente. Se antes a montagem trabalhava o choque entre imagens antigas e novas para efeitos cômicos ou dramáticos, nos capítulos mais recentes evoca-se o passado apenas como um conjunto de easter eggs que devem ser reconhecidos isoladamente para satisfação passageira.
O mesmo problema narrativo surge nos núcleos protagonizados pelos adolescentes, todos eles alienados da atenção dos espectadores ou desenvolvidos de forma aticlimática. Diante do que foi o final da quarta temporada, alguns conflitos se impunham como aspectos necessários para a produção. Miguel e Robbie precisariam acertar sua rivalidade desde a briga na escola, enquanto Sam e Tory também deveriam levar sua rivalidade para outro nível. Entretanto, tudo que cerca os arcos individuais de cada personagem é esvaziado: a resolução da dúvida de Miguel sobre seu pai é apressada, as animosidades de Robbie e Lawrence carecem de um desfecho mais potente, os questionamentos existenciais de Sam se repetem sem maiores variações em desde a temporada anterior e os dilemas de Tory quanto ao resultado do torneio são negligenciados. Logo, os conflitos entre as duas duplas jamais assume a preponderância que precisaria ter em dado momento para explorar suas forças dramáticas.
É verdade que, a partir do episódio cinco, a série parece passar por uma guinada com certa ruptura na dinâmica geral da narrativa. Novamente tendo como eixo fundamental o embate entre Silver e LaRusso, a segunda metade da temporada delimita mais claramente os dois lados em oposição com a integração dos núcleos de adultos e adolescentes em torno do objetivo comum de deter o vilão. São, especialmente, os capítulos cinco e seis que produzem um apelo dramatúrgico mais significativo junto ao público por conta de sequências específicas que mobilizam a união dos protagonistas. Daniel LaRusso hesita em manter o confronto direto com Terry Silver após uma luta entre eles, mas repensa suas decisões ao ver que seus amigos e familiares estão ao seu lado incentivando-o a se contrapor ao seu antagonista. Consequentemente, estes capítulos até oferecem algumas cenas de desalento e união que movem a dramaturgia da obra para possibilidades promissoras.
Porém, o desenvolvimento dessas promessas não consegue fugir de elementos que se tornaram uma fórmula da série. Nas outras temporadas, o fluxo de acontecimentos sempre girava em torno do enfrentamento dos dojôs em alguma competição e, ocasionalmente, de alguma sequência de luta descontrolada no último episódio. A nova temporada não é diferente ao desenvolver sua reta final nos mesmos moldes repetitivos, não somente nos eventos em si, mas também na lógica central de insinuar que a solução para tudo seria evitar algumas brigas (filosofia máxima do senhor Miyagi) até desistir da ideia para novamente colocar algum embate travado no tatame. Ainda assim, alguns aspectos possuem méritos, como a decisão de expandir o alcance do Cobra Kai a partir da introdução de outros sensei de outras partes do mundo, que se revela interessante na coreografia das lutas. As encenações do caratê sugerem tanto uma dança portadora de uma filosofia humanista quanto assumem um caráter mais violento digno de uma ameaça nunca antes vista.
Sendo assim, a quinta temporada “Cobra Kai” caminha rumo a um desfecho que proporciona momentos eficientes para o drama e para o suspense. No entanto, a eficiência aparece muito mais em situações de apelo isolado e menos na construção de uma unidade narrativa mais coesa. A divisão do décimo episódio em três núcleos e a passagem de um para o outro rendem conflitos que deixam os espectadores temerosos do que pode ocorrer com seus personagens mais queridos, ao mesmo tempo que tenta obscurecer o fato de que essa separação narrativa surge de modo frágil através de uma figura conveniente de roteiro. Diante de tal resolução, o cerco que se fecha está, na realidade, no plural. O vilão se vê diante de sérios obstáculos ao seu plano, os protagonistas conseguem se unir para fazer frente à ameaça e a série se vê no dilema entre saber terminar e querer se prolongar mais ainda. E, a julgar pela última cena, a produção parece optar pelo prolongamento exaustivo de algo que já teve seus dias mais gloriosos.
Um resultado de todos os filmes que já viu.