“BIG LITTLE LIES” [2X07] – Rumo à conclusão
* Este texto se refere ao SÉTIMO EPISÓDIO da SEGUNDA TEMPORADA da série. Clique aqui para ler o texto do sexto episódio.
O sexto episódio de BIG LITTLE LIES deixou um gancho interessante para o sétimo e último capítulo da segunda temporada: um novo confronto entre Celeste e Mary Louise, dessa vez no tribunal, pela guarda de Max e Josh tendo a mãe como advogada e a sogra como testemunha. Além da qualidade da cena em si, possibilitada pelas excelentes atuações de Nicole Kidman e Meryl Streep e pelo ritmo dinâmico da diretora Andrea Arnold, esse momento simbolizou a maternidade como tema recorrente do segundo ano da série. “I want to know” reúne e conclui os arcos dessas seis mulheres a partir da questão de ser mãe.
Girando em torno do desfecho da disputa judicial entre mãe e sogra, a narrativa trabalha a maternidade dentro de diferentes perspectivas, algumas mais sólidas, outras nem tanto ao longo da temporada. O embate entre as duas mulheres no tribunal foi o ponto auge por revelar as ricas camadas dentro das duas personagens: Celeste, mesmo temerosa de se ver afastada dos filhos e ainda atormentada pelas lembranças de Perry, reúne toda a coragem e força que possui para agir como uma advogada impetuosa para ganhar sua causa – Nicole Kidman transitou por uma variedade muito grande de sentimentos em toda a temporada, encontrando o clímax nessas sequências; Mary Louise exibe uma coleção de contradições internas que tornam sua personagem ainda mais complexa, ao se descobrir que ela já foi violenta quando esteve sob um descontrole emocional – Meryl Streep brinda o público com a obstinação em proteger a memória do filho e a vulnerabilidade diante da revelação de seu passado e da personalidade de Perry.
As demais mulheres que orbitam ao redor do conflito central do episódio também tem o encaminhamento para a conclusão de suas trajetórias. Bonnie possui o arco mais bem trabalhado (graças à riqueza de possibilidades da personagem e ao próprio fato de que ela havia sido pouco explorada no primeiro ano da série), permitindo abordar a irrupção de traumas passados de uma infância de maus tratos, aparentemente enterrados, mas ressuscitados pela morte de Perry. Já Madeline, Jane e Renata até atravessam uma jornada própria – de divergências matrimoniais com o marido Ed, de superação das perturbações emocionais ligadas ao estupro e de enfrentamento da falência causada pelas negociatas do marido, respectivamente -, porém apresentam um desenvolvimento muito contido, fazendo com que elas vivenciem situações repetitivas e experimentem poucas variações e gradações dramáticas. Reese Whiterspoon e Shailene Woodley carecem de momentos em que possam brilhar (como puderam fazer na primeira temporada), já Laura Dern possui cenas em que pode explodir de forma acentuada com o marido (apesar de ter quase que exclusivamente situações assim para interpretar).
“I want to know“, diferentemente dos episódios anteriores, consegue acertar as transições de cenas, medindo de modo mais calculado o ritmo dos núcleos e sabendo como passar de um para outro. Além da construção específica de cada cena, a montagem é responsável por criar paralelos nos arcos das personagens através de recursos bastante expressivos: por exemplo, os raccords temáticos que entrecruzam os abraços de Max e Josh a Mary Louise às visitas da família de Bonnie a Elizabeth e a canção “Have you ever seen the rain” para concluir as trajetórias das cinco amigas. Conclusões essas que remetem à maternidade, pois mostra Madeline se reconciliando com Ed para preservar a família; Jane conseguindo dar um passo além no relacionamento com Corey; Renata priorizando definitivamente a filha ao invés do casamento; Celeste mantendo a guarda de seus filhos; Mary Louise voltando para sua casa após conhecer quem era Perry; e Bonnie perdoando a mãe pelos maus tratos durante a infância.
Dentro da conclusão das jornadas das cinco mulheres principais, ainda há a mentira criada para explicar a morte de Perry. A segunda temporada começou a partir dos efeitos da versão construída por elas para o incidente, se desenvolveu comentando os desdobramentos dessa escolha para as personagens (por vezes, claramente, por outras, vagamente) e termina indicando como a mentira não pode se prolongar por mais tempo. A reunião de Celeste, Madeline, Jane, Renata e Bonnie nos últimos minutos do episódio reafirma a opção de “Big little lies” pelo drama ao invés do mistério. Uma mudança bem-vinda, porém com percalços durante a travessia.
Um resultado de todos os filmes que já viu.