“ARRANHA-CÉU: CORAGEM SEM LIMITE” – O exagero do absurdo
Qual a palavra que resume o exagero do absurdo? Como seria possível sintetizar algo que não é apenas absurdo, mas exagera nesse absurdo? Uma palavra não bastaria, então fizeram um filme: ARRANHA-CÉU: CORAGEM SEM LIMITE.
O longa é protagonizado por Will Sawyer, um veterano de guerra e ex-líder em operações de resgate, que trabalha com a segurança de arranha-céus. Will é contratado pelo magnata Zhao Long Zhi, magnata criador do edifício mais alto da China. A vida do protagonista e de sua família corre risco quando ocorre uma conspiração para deixar o edifício em chamas como se ele fosse o culpado.
Do ponto de vista da ideação, o roteiro do filme não é tão ruim. É formado a partir de duas tramas que se conectam, a do protagonista e a do prédio, com um nexo consistente entre elas, quando Will percebe que faz parte de uma trama maior. Apesar dos vilões unidimensionais (um deles que tenta, em vão, surpreender), o carisma de Dwayne Johnson é fator positivo da película. Humanizando a personagem, Johnson utiliza falas repetidas com os membros da família (em especial declarações de amor) quase como um mantra. Nas cenas de ação, o ator nunca decepciona, fazendo apenas o que o script prevê, por mais tolo que seja.
Altura, fogo e esforço: três elementos reiterados inúmeras vezes na película. A trilha musical é bem clichê, mas as (poucas) coreografias de luta, por outro lado, são bem feitas. A direção de Rawson Marshall Thurber usa um chroma key de boa qualidade, alcançando um nível ainda mais alto na esfera que fica no topo do arranha-céu. O 3D é também razoável, mas dispensável. Há uma referência claríssima a “Missão: impossível – protocolo fantasma”, que entra no contexto absurdista da produção – inclusive superando (e muito) a inspiração nesse quesito (e apenas nesse quesito).
O prólogo da película sugere um filme de ação, momentaneamente subvertendo a expectativa do espectador com tensão e drama. Parte do que vai acontecer é bastante previsível, mas há uma surpresa considerável. O elenco chinês indica uma plausibilidade, que, todavia, passa longe do filme. É esse, por sinal, o seu grande problema.
Não se trata de esperar um roteiro intelectualizado ou profundo, devendo ser reconhecida a honestidade do filme ao entregar um blockbuster absolutamente descerebrado – e limitar-se a isso. O texto não tem pontas soltas, mas absurdos difíceis de serem tolerados mesmo com uma dose colossal de suspensão da descrença. Habitando um universo comum, o filme extrapola ilimitadamente o razoável do que uma inteligência média toleraria. Mais que conveniências (ainda bem que o edifício ao lado era alto o suficiente e com guindaste, não!?), o protagonista vive momentos de MacGyver e o longa é inegavelmente desmedido no absurdo.
“Arranha-céu: coragem sem limite” não precisava ser realista, precisava ser aceitável (por exemplo, o celular poderia não continuar funcionando após a explosão). O senso comum já indica que nada que é exagerado faz bem, melhor seria se a produção seguisse esse conselho oriundo da sabedoria popular. “Sem limite” não é um bom sinal.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.