“A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2” – Paródia de si mesmo
*Clique aqui para ler a nossa crítica do primeiro filme.
Em 2017, chegava aos cinemas “A morte te dá parabéns“, uma tentativa de fundir os slasher movies a “Feitiço do tempo“. Apenas tentativa, pois nem a tensão do suspense nem o humor da prisão temporal são bem trabalhados, criando um encontro dissonante entre dois estilos mal estruturados. Já em 2019, A MORTE TE DÁ PARABÉNS 2 tenta corrigir as lacunas na abordagem cômica, investindo com mais força nela, porém volta a incorrer em erros desnecessários no tom da narrativa.
O novo filme se inicia com acontecimentos imediatamente posteriores ao desfecho do antecessor: Tree Gelbman pretender dar um novo rumo à sua vida após escapar do feitiço temporal que a aprisionava em seu aniversário e começar a namorar com Carter; entretanto, quando um experimento científico dá errado, ela é novamente obrigada a vivenciar esse fluxo de repetição, dessa vez com algumas diferenças que a deixam ainda mais em risco. Do ponto de vista da comédia, o primeiro acerto são as brincadeiras feitas com o protagonismo e o desenvolvimento da narrativa – determinadas transformações a levam para caminhos que quebram a expectativa do público ou oferecem pistas falsas do que se verá a seguir.
Ao longo de toda a produção, inclusive, percebe-se uma falta de compromisso (no bom sentido) com a seriedade. O humor está muito mais presente nesse segundo filme, extraindo boa parte da comédia de piadas autorreferenciais que já podem ser compreendidas como pertencentes ao seu universo diegético: momentos reconhecíveis da trajetória de Tree em seu looping temporal, a presença do assassino com uma máscara de bebê e as suaves diferenças de uma experiência para outra são ironizados como aspectos absurdos e irreais. A montagem é um dos principais elementos cinematográficos responsáveis por essa característica por encadear de forma sistemática situações de morte nonsense ou sequências com ações inusitadas dos personagens. Além disso, as performances do elenco acompanham a proposta, especialmente Jessica Rothe, que se diverte com as peripécias e os desafios insólitos enfrentados pela protagonista, e Phi Vu, que entrega um sidekick atrapalhado mesmo com pouco tempo de tela.
A comédia construída pela obra não se potencializa ainda mais por conta da inserção de traços de ficção científica no roteiro (equipamentos tecnológicos, multiversos, contradições espaciais e temporais, fórmulas matemáticas complexas…). A opção por tentar explicar o fenômeno através de argumentos científicos frustra o caráter excepcional e imprevisível antes colocado no conflito, algo que o tornava mais ameaçador, assim como soa deslocada da base já formulada pela história. Outro problema está na escala ligeiramente grandiosa adicionada, que costuma aparecer também em continuações de outros filmes – a ficção científica estabelecida traz regras internas complexas que o próprio filme não consegue sustentar sem furos ou explicações aleatórias.
O roteiro também tenta estabelecer momentos sentimentais que não combinam em nada com a narrativa e, portanto, são desnecessários. Enquanto Tree revisita suas antigas experiências e novamente é exposta a uma série ameaça, novos conflitos aparecem para ela relacionados à sua família e aos seus demais relacionamentos. Tais ocasiões deveriam ser mais um empecilho à jornada da protagonista e recursos para seu desenvolvimento dramático, mas apenas se revelam artificiais e nada impactantes para seu próprio arco – o uso da trilha sonora nessas sequências prejudica o que já não era bom por si mesmo ao colocar notas pretensamente sentimentais de um piano ao fundo.
No quesito direção, Christopher Landon apresenta um trabalho irregular na organização dos diferentes tons escolhidos. A tensão típica dos slasher movies é praticamente descartada dado o pouco número de sequências em que o assassino aparece ou em que o suspense é sugerido. A comédia enfim é bem trabalhada pelo cineasta, deixando de lado a timidez com que lidou com os aspectos cômicos no filme anterior e se entregando a composições e enquadramentos que evocam uma comédia sem restrições (quando os planos propositalmente pensados para serem engraçados se encontram com a trilha sonora lúdica, o humor salta aos olhos). As falhas são graves quando ele tenta transmitir alguma emoção ligada ao amor ou ao sacrifício, devido à falta de tato para associar tais momentos à sua comédia de terror.
Os motivos podem ser outros, mas “A morte te dá parabéns 2” chega ao mesmo resultado final de seu antecessor. Jamais conseguindo imprimir alguma tensão genuína ao seu assassino e ao componente violento da premissa, o filme também carece de força para sustentar completamente o humor. A decisão de parodiar seu próprio universo com comentários irônicos e alterações na dinâmica dos elementos poderia ser a chave para a evolução do material. Uma condição não alcançada devido à utilização desnecessária do drama e da ficção científica em uma produção que não as pedia. Novamente, a experiência é apenas razoável.
Um resultado de todos os filmes que já viu.