“FALCÃO E O SOLDADO INVERNAL” [1X01] – Cenário de pós-guerra
Na fase recente do MCU e das produções originais da Disney+, as séries vêm responsáveis por apresentar o universo Vingadores após “Vingadores: Ultimato“. Alguns elementos para foram pontuados em “WandaVision“, embora seu maior interesse fosse desenvolver Wanda e trabalhar especificamente os efeitos do luto na heroína. Com a estreia de FALCÃO E O SOLDADO UNIVERSAL, os rumos são alterados para retomar o heroísmo conhecido da Marvel com uma obra mais claramente voltada para ação, ainda que os dois protagonistas tenham também espaço considerável.
A trama se passa seis meses após os eventos de “Vingadores: Ultimato“, quando o mundo aparenta ter se reencontrado. Entretanto, a aparência de normalidade se choca com uma realidade ainda difícil para quem sofreu com o blip e quem desapareceu por cinco anos antes de retornar. Nesse cenário, a instabilidade fez surgir novas ameaças dedicadas a reorganizar o mundo segundo seus interesses e deixou a sociedade carente de heróis transmitir ideais nobres. Assim, Sam e Bucky começam a entrar em uma aventura de proporções globais que testará suas habilidades.
Diferentemente de “WandaVision“, a nova série já revela uma presença maior da ação, como fica evidente na sequência de abertura em que Falcão participa de uma missão de resgate a um avião norte-americano sequestrado por terroristas na África – tais momentos cumprem o propósito de diversão ao se situarem sempre no céu, tendo vertiginosas cenas de perseguição e confrontos físicos/bélicos dentro de aeronaves ou durante o voo. À medida que a história do primeiro capítulo se desenvolve, o contexto mais explícito de ação com um vilão definido se estabelece e segue a ideia de um cenário turbulento pós-guerra: o ambiente está devastado e a sociedade ainda se reestrutura desde o blip e os impactos de Thanos, o que permite a ascensão de uma organização terrorista intitulada Apátridas, que realiza atentados para forjar a realidade ao seu bel-prazer.
Entretanto, “Nova Ordem Mundial” é um episódio que desperta maior atenção por reservar espaço para desenvolver os conflitos dramáticos dos protagonistas. Mesmo trabalhando na Força Aérea norte-americana e usando suas habilidades, Sam sente o peso do manto do Capitão América e o recusa – esse sentimento é palpável na coletiva à imprensa que o personagem faz para colocar o escudo em um museu e na conversa com o Coronel James Rhodes enquanto eles observam a simbologia do herói e cartazes de propaganda. Além de apresentar esse dilema interno em relação ao heroísmo, seu arco também envolve a necessidade de lidar com as consequências daquele novo contexto (semelhante à reconstrução após um grande conflito) dentro da sua família, tendo que ajudar sua irmã Sarah a manter os negócios. São duas camadas bem incorporadas por Anthony Mackie na composição de seu persoangem.
O princípio do cenário pós-guerra também reveste à situação de Bucky, que abandonou a posição de Soldado Invernal a serviço da HIDRA, mas ainda carrega os traumas de seu passado violento (algo como o estresse pós-traumático vivido por militares após momentos extremos). Logo, ele precisa lidar com pesadelos e memórias de atitudes das quais se arrepende (ajudar figuras execráveis a chegar ao poder ou cometer assassinatos de inocentes) e tentar criar vínculos afetuosos com pessoas que possam ajudá-lo a vivenciar uma trajetória pacífica – nesse sentido, a terapia que faz e as interações com outros personagens se relacionam muito mais com seus sofrimentos pregressos do que com progressos na sua socialização. Paradoxalmente, Sebastian Stan consegue encarnar com maior expressividade o isolamento social em que está do que os traumas interiores, embora o ator tenha um desempenho geral convincente.
Construindo o primeiro capítulo de sua narrativa, “Falcão e o Soldado Invernal” ainda está construindo o tabuleiro onde as peças irão se mover no futuro da produção. O showrunner Malcolm Spellman e a diretora Kari Skogland imprimem uma perspectiva de universo instável precisando ser reconstruído sem muitos rodeios, porém a série passa a impressão de ainda estar se definindo tanto em termos de estilo quanto de condução dramática. Por um lado, o encontro de Sam e Bucky no futuro próximo deve estabelecer o estilo pretendido pelos realizadores; por outro, existem elementos narrativos que certamente serão mais desenvolvidos (por exemplo, a ameaça dos Eupátridas e o esforço do governo para criar alguma figura heroica a qualquer custo, como aparece na última cena). Portanto, o primeiro episódio não fornece tantas certezas ou percepções mais evidentes do que virá pela frente.
Um resultado de todos os filmes que já viu.