“AMOR COM DATA MARCADA” – Fórmula com duração ultrapassada
Não deixa de ser curioso que a premissa de AMOR COM DATA MARCADA seja o oposto de sua estrutura narrativa. Por um lado, a comédia romântica original Netflix aborda a efemeridade de relacionamentos casuais sem compromisso; por outro, o filme se desenvolve dentro de clichês e convenções já estabelecidos há tempos e desgastados por um longo período de uso sem variações. Por mais que existam tentativas de dar uma roupagem nova à fórmula, a previsibilidade dá o tom.
A começar pelos protagonistas, o desenvolvimento da história não reserva grandes novidades ao subgênero. Sloane gosta de sua vida de solteira e acredita que não precisa de um namorado. Jackson é outro solteiro, que foge de relações duradouras. Quando a pressão de amigos e familiares cresce para que eles encontrem um amor, os dois combinam ser o par um do outro em ocasiões festivas. Porém, o que deveria ser descompromissado começa aos poucos a evoluir para algo a mais.
Basta já ter visto qualquer comédia romântica hollywoodiana para imaginar o ponto de partida do roteiro: os personagens centrais não veem sentido em namorar; na primeira vez que se veem, brigam sem razões sérias; continuam próximos sem maiores justificativas e encontram pontos em comum; e decidem passar um tempo esporádico juntos sem cobranças e expectativas – no caso de Sloane e Jackson, a questão específica seria um fazer companhia ao outro em festividades como o Ano Novo, a Páscoa, o Dia dos Namorados e o Quatro de Julho. Essa decisão é tomada após uma noite de Natal decepcionante, apresentada sem criatividade pela montagem paralela, que intercala as pressões da família de Sloane para que ela se case e as reviravoltas no encontro de Jackson com uma jovem cheia de planos precoces para o futuro. Ainda assim, Emma Roberts e Luke Bracey têm carisma e química suficientes para fazer com que o público se divirta com as interações entre eles.
Os protagonistas desse tipo de trama também possuem amigos ou familiares que são coadjuvantes destinados a dar conselhos amorosos e/ou servir como alívio cômico. Para Jackson, o colega Neil se porta como fonte de humor ao tentar justificar os perigos de um relacionamento; para Sloane, a mãe Elaine procura namorados para a filha, os irmãos Abby e York representam o distanciamento da jovem por ser a única solteira, e a tia Susan é a referência de desprendimento de relações ao aparecer nos feriados sempre com um homem diferente. Tais figuras não fazem nada além do esperado em uma história que trata de relacionamentos românticos, principalmente piadas de teor sexual, inclusive em momentos inadequados na presença de crianças (como aquela feita com uma fantasia de Halloween e prostituição).
Tiffany Paulsen até tenta escrever cenas que poderiam gerar alguma surpresa na progressão da narrativa, mas o humor ora recorre a situações também clichês para o subgênero ora cria momentos de pouco impacto expressivo. É assim que piadas escatológicas e contrapontos entre a infantilização dos adultos e a maturidade precoce de uma criança são feitos dentro de padrões confortáveis. Da mesma maneira, esforços para fazer algo diferente surgem como construções isoladas, como comentários metalinguísticos sobre as comédias românticas e passagens inesperadas com algum fato violento. Nesse sentido, o que mais falta para que as piadas sejam bem-sucedidas é uma preparação que as articule ao desenvolvimento dos personagens – afinal, ingerir laxante por engano não é o melhor dos caminhos para promover uma evolução nos arcos dos protagonistas.
John Whitesell, por sua vez, parece manter seu filme nos parâmetros tradicionais de decupagem do subgênero (planos médios, diálogos filmados na lógica de plano e contraplano, iluminação naturalista…). Contudo, quando busca enquadramentos ou movimentos de câmera distintos desse princípio, temos a sensação de que faz essas escolhas simplesmente para mostrar o que sabe fazer – uma câmera que circula pelos personagens dentro de um cômodo enquanto têm uma conversa simples ou o equipamento preso a um carrinho de supermercado enquanto o casal principal faz compras em nada acrescenta às respectivas cenas. Paradoxalmente, seria mais expressivo para o desenrolar da narrativa se a montagem estilizasse a progressão temporal, pois um feriado é substituído pelo outro abruptamente com um corte simples, sem explorar com criatividade a passagem do tempo e situar os espectadores em cada mudança.
Em face do que “Amor com data marcada” entrega, é ainda mais importante a escolha de atores para os papéis centrais. Por conta de Emma Roberts e Luke Bracey, é possível acompanhar um filme que, em seus outros aspectos, repete o que já foi feito, sem nada de especial, ou não impacta quando insere poucas ideias próprias, sem construí-las de forma expressiva. Portanto, não há maiores surpresas com um desenvolvimento que recorre ao percurso clássico de um casal que se aproxima sem esperar por isso, briga e se afasta por motivos tolos, um deles reconhece que precisa se declarar e corre em busca do outro. Ou melhor, a única surpresa é assistir ao filme que não consegue nem seguir com coerência as etapas de uma comédia romântica e prolongar esse percurso além da conta.
Um resultado de todos os filmes que já viu.