“LITTLE JOE” e “PRIMEIRO AMOR” [21 F.Rio]
LITTLE JOE é uma coprodução Áustria, Alemanha e Reino Unido que trata de uma empresa de engenharia genética dedicada à criação de novas espécies de plantas. Alice é uma das principais funcionárias dali e responsável pela fabricação de uma espécime terapêutica que deixaria seu dono mais feliz. A proposta do filme dirigido por Jessica Hausner revela imediatamente uma carga considerável de estranheza e absurdo, presente tanto no universo diegético quanto no desenvolvimento dos personagens.
Textualmente, o roteiro comenta as potencialidades inusitadas da planta e as possibilidades estranhas de gerar resultados indesejáveis que transformariam negativamente os humanos. No quesito direção de atores, a cineasta também é eficiente em fazer com que os atores apresentem uma performance robótica compatível com a trajetória dramática. Tais características contribuem para uma sensação de paranoia, pautada nas desconfianças sentidas pelo espectador quanto à veracidade ou não dos fatos (ou apenas efeitos produzidos pelo medo e pela tensão).
Em termos visuais, a narrativa possui um jogo de cores representativo da dualidade pretendida com a diegese. A empresa e os figurinos dos funcionários apresentam um tom de verde claro ameno e leve, que contrasta fortemente com as cores vermelho e roxa ao redor da planta (símbolos, ao mesmo tempo, da beleza plástica da espécime e dos perigos que ela pode provocar). Já os aspectos sonoros e musicais são a maior deficiência da produção: os ruídos perturbadores e incômodos de notas dissonantes de instrumentos musicais e sons de animais funcionam no primeiro momento para criação de tensão e, posteriormente, falham por serem muito intrusivos e inseridas em momentos não inquietantes.
Elementos ousados trabalhados com grande nível de anarquia costumeiramente fazem parte dos projetos do diretor Takashi Miike. Em PRIMEIRO AMOR, os destinos de membros da Yakuza, mafiosos chineses, um policial corrupto, dois pequenos traficantes, um boxeador iniciante e uma jovem escravizada sexualmente pela Yakuza se cruzam após a chegada de um novo carregamento de drogas no Japão. A trama construída apresenta uma agilidade revigorante, reinventando os desafios e as reviravoltas que os personagens precisam enfrentar e os limites a que estão submetidos.
Outro aspecto muito próprio do cineasta é a abordagem crua e visceral da violência. Aqui, não se trata de algo semelhante ao que se encontra comumemente nas produções comerciais hollywoodianas, já que Takashi Miike encena e coreografa as lutas corporais, as perseguições e os tiroteios do modo mais realista possível: os golpes são sentidos com uma contundência muito grande através de movimentos que simulam eficientemente os impactos contra partes sensíveis do corpo; e os tiros sempre encontram o alvo sem que sejam necessários muitos projéteis lançados a esmo. Assim, a violência é algo que atinge a todos os personagens, não sendo capazes de fugir completamente dela.
Acompanhando a trama, existe um estilo também anárquico de compor o gênero policial. Ao invés de simplesmente trazer o suspense, a tensão e a adrenalina esperadas, o diretor adiciona passagens de humor absolutamente inesperadas e provocativas, como piadas sobre mutilação, atropelamento e situações absurdamente concebidas (como várias ligações de um médico dando notícias sobre a saúde de um dos personagens enquanto este foge de uma perseguição). Porém, em algumas ocasiões, a mistura de sensações carece de maior equilíbrio para que uma não invalide e enfraqueça outra. Um aspecto inferior que não debilita as qualidades do filme.
*Filmes assistidos durante a cobertura da 21ª edição do Festival do Rio (21th Rio de Janeiro Int’l Film Festival).
Um resultado de todos os filmes que já viu.