“MEDO PROFUNDO: O SEGUNDO ATAQUE” – Assusta de verdade
Há filmes que, de tão ruins, conseguem ser bons e ensejar algum entretenimento efêmero. Não é esse o caso, todavia, de MEDO PROFUNDO: O SEGUNDO ATAQUE. É melhor torcer para não ter um terceiro.
Após uma breve apresentação, o longa reúne quatro adolescentes que resolvem se aventurar em uma cidade maia submersa, local labiríntico onde elas encontram perigos inesperados.
O roteiro, escrito pelo diretor Johannes Roberts juntamente com Ernest Riera, não poderia ser mais chato (nos dois sentidos da palavra). Histórias de perigo no mar, além de estarem ultrapassadas, raramente promovem emoções verdadeiras perante o público. Depois do clássico “Tubarão” (cuja crítica pode ser lida clicando aqui), poucas produções tiveram êxito (e nenhuma com o destaque da dirigida por Spielberg).
Como terror genérico que é, as quatro personagens principais são imprudentes ao máximo, aliando-se a isso estúpidas coincidências que o roteiro coloca no caminho delas. O ar do cilindro acaba em velocidade incompatível com a evolução da narrativa, o sistema de comunicação falha apenas quando necessário e assim por diante. O fiapo de trama fica repetitivo e entediante.
Mia, a protagonista, é a única que parece ter alguns neurônios funcionais – as outras, além da limitação intelectual, às vezes demonstram não ter sentimentos (ou bons sentimentos, vide a cena em que Nicole se destaca). Assim, é difícil analisar a atuação de Sophie Nélisse com um papel tão raso. Por exemplo, nos minutos iniciais, ela é vítima de um bullying sem contexto e que é descartado pela arquitrama porcamente construída.
Nasce então uma falsa inimizade entre Mia e Sasha, esta vivida por Corinne Foxx, que é a melhor do elenco (o que não chega a ser um elogio). Tudo é pretexto para justificar um projeto de subtrama entre as duas, relativo ao relacionamento delas na família – que, quando do incidente incitante, torna suas condutas incoerentes. Acontece o óbvio: com o enorme sofrimento nas cavernas marinhas, elas se tornam melhores amigas. Como se isso justificasse ferimentos cujas consequências desafiam a inteligência de um espectador com mais de oito anos de idade. Desfilando ao lado de Nélisse e Foxx estão Brianne Tju e Sistine Stallone, apenas para que as duas primeiras não se sintam sós no fundo do mar.
O filme não consegue criar a impressão de submersão, dado o péssimo CGI (se esqueceram de transformar os isopores em animais marinhos) e as piadas – porque aquilo não pode ser sério – que ofendem as leis da física, como o som que ignora a diferença de impedância acústica. No quesito sonoro, aliás, o longa é provavelmente um dos piores dos últimos anos. A trilha de Tomandandy é absolutamente esquecível. Tratando-se de um filme de terror, realmente assusta como conseguiram fazer uma mixagem tão ruim na sequência em que toca “Somewhere in my heart”, de Aztec Camera.
Talvez seja essa a ideia do longa: amedrontar pela sua falta de qualidade. Ninguém em sã consciência acreditaria que os jump scares mal feitos e as composições falhas conseguissem resultar em um terror eficiente. Pensar o contrário é que assusta de verdade.
Uma boa notícia: é possível assistir à continuação sem ter visto o prequel. Apesar de isso não ser exatamente bom…
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.