“RAMBO: ATÉ O FIM” – Caça-níquel sem originalidade e sem qualidade
Sem originalidade e sem qualidade: esses dois adjetivos ausentes em RAMBO: ATÉ O FIM o definem com precisão. Não custa lembrar, ainda, que é um filme caça-níquel. Logicamente, todos os filmes almejam obter lucro, o problema em filmes como “Rambo 5” é a continuidade de uma franquia já mais que esgotada, sem nada para comunicar ou exibir. Para um cinéfilo exigente, chega a ser ofensivo.
Dividindo-se entre a calmaria de seu rancho e eventual auxílio à polícia local, o protagonista John Rambo ainda sofre pelo seu passado violento. A essas cicatrizes, soma-se um salvamento malsucedido quando está ajudando a polícia. Quando uma pessoa de seu círculo familiar desaparece, ele precisa superar os traumas e partir para mais uma missão de resgate.
O roteiro de Matt Cirulnick e de Sylvester Stallone é tão ruim que é difícil não revelar obviedades que, em um script melhor, seriam spoilers (aqui, são apenas obviedades). Tudo começa como uma trama de resgate, algo muito parecido com “Busca implacável”. O primeiro defeito não é a inspiração (que, aliás, é excelente), mas ignorar o backstory criado: para salvar, todas as dores pretéritas do protagonista – as distantes e a recente – são imediatamente esquecidas. O argumento de defesa seria que, na hora da raiva, ele não pensa nas lembranças que o entristecem. Nesse caso, contudo, não faz sentido construir um protagonista marcado pelo sofrimento se isso não é bem aproveitado. Existem momentos de subjetividade mental, em que ele se lembra dos tempos de guerra e do insucesso recente, porém isso é exceção quando a ação começa. E essa conclusão é inafastável, caso contrário, ele não iria atrás dos vilões de maneira tão ingênua (se ele já é calejado, é ilógico que não adote uma estratégia).
Em determinado momento da narrativa, todavia, a trama se transforma, em razão de um plot twist que, em tese, aumentaria o drama de Rambo. Surge um segundo (dentre os inúmeros) defeito(s): Stallone nunca foi um bom ator, “Rambo 5” não é exceção. Mais uma vez, haveria uma tese defensiva: na franquia “Rocky”, ele teve bom desempenho. Essa é uma verdade parcial, pois esta franquia, ao contrário daquela, soube se atualizar e, principalmente, colocar Stallone em segundo plano. Se Rocky continuasse como protagonista, o fracasso seria certo. Dar espaço para novas personagens – e um novo protagonista, sem olvidar sua representatividade -, fazendo do “garanhão italiano” um coadjuvante com subtrama autônoma (e que não dependia de grande talento dramático, razão pela qual Stallone foi bem), foi a chave para que “Creed” tenha renovado a franquia “Rocky” em alto nível. Já com a franquia “Rambo”, o ator, de certa forma, passa vergonha, seja por um suposto saudosismo (representado nas imagens dos créditos finais), seja pelo fato de o roteiro exigir um talento que ele nunca teve.
Ironicamente, o roteiro exige algo que não possui. Com vilões unidimensionais de nomes Victor e Hugo (o autor francês certamente se revira no túmulo), Rambo se torna um símbolo ultrapassado de justiça com as próprias mãos. O erro não é glorificar um justiceiro – caso contrário, nunca mais haveria um filme do Batman -, mas limitar-se a isso, sem nenhum senso crítico (pior, trazendo uma visão preconceituosa do México). Basta ver que a trilogia de Christopher Nolan, para além de metáforas inteligentes, permite questionar o papel de um vigilante. Até mesmo a franquia “Vingadores” (mais precisamente, em “Capitão América: Guerra Infinita”) se propõe a esses questionamentos.
Com coerência, a direção do inexperiente Adrian Grunberg é catastrófica. Há um excesso de closes para injetar dramaticidade à força, a iluminação vertical é péssima, a trilha musical é genérica e o pouco CGI utilizado (especialmente no prólogo) é muito fajuto. A montagem de Carsten Kurpanek e Todd E. Miller é tão mal feita que as cenas de ação muitas vezes se tornam confusas, o resultado é um verdadeiro desastre. No entanto, para quem gosta, há muitas cenas em estilo gore, com planos-detalhe em feridas, sangue jorrando, membros decepados etc. Nada com valor cinematográfico de realce, é claro.
É estranho perceber que “Rambo: até o fim” tenha boas inspirações, como o já citado “Busca implacável” e “007 – Operação Skyfall” (a preparação de armadilhas na fazenda e o corte dos canos da espingarda). O filme é um bom exemplo de como um parâmetro norteador de alto nível não basta para que o resultado seja satisfatório. O que ele teria de bom é cópia do que já foi feito; o que não é cópia, é ruim.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.