“TOY STORY 4” – Tributo a Woody
* Clique aqui para ler a nossa crítica de TOY STORY, de 1995.
* Clique aqui para ler a nossa crítica de TOY STORY 2, de 1999.
* Clique aqui para ler a nossa crítica de TOY STORY 3, de 2010.
Quando “Toy story” ganhou um segundo filme em 1999, muitos se perguntaram se era necessário. Quando a história se tornou uma trilogia em 2010, pergunta semelhante foi feita. Por fim, em 2019, novos questionamentos vêm com o lançamento de TOY STORY 4, novo filme para uma franquia que já havia atingido o ápice narrativo e emocional no seu antecessor. Sabendo da dificuldade de superar os anteriores, a mais recente animação da Pixar não desenvolve um arco para todos os personagens e prefere fazer uma homenagem a Woody.
O novo estilo da história se inicia de onde o terceiro filme parou: Woody e seus amigos agora vivem com Bonnie. Após o primeiro dia no jardim de infância, eles conhecem Garfinho, um brinquedo construído pela menina a partir de um garfo de verdade e objetos jogados no lixo. Não aceitando sua função, Garfinho foge de casa e obriga Woody a partir em seu encalço para trazê-lo de volta, em uma jornada que o faz reencontrar com Betty em um parque de diversões.
O foco no caubói aparece na cena de abertura, quando nove anos atrás ainda no quarto de Andy, os brinquedos organizam o regaste do carrinho preso na chuva fora de casa – o flashback serva para que, em uma conversa entre Woody e Betty, o tema passar adiante para outra criança seja abordado. Em seguida, a tradicional montagem com sequências que indicam a passagem de tempo mostra como os personagens deixaram de ser de Andy e se tornaram de Bonnie. No momento atual da narrativa, enquanto os bonecos participam das brincadeiras da menina, Woody não é escolhido e fica no armário. A partir daí, o conflito inicial é pontuado: o xerife se sente desprestigiado e sem função, lembrando-se nostalgicamente do passado (o roteiro se preocupa também em adicionar o detalhe da bola de poeira no caubói sendo nomeada pelos outros personagens como parte integrante daquele universo).
Após a criação de Garfinho por Bonnie, Woody encontra sua nova razão de ser: fazer com que a criança sempre tenha por perto o brinquedo que a deixa feliz e segura. Contudo, durante a viagem com a família da menina, a fuga de Garfinho cria outra aventura de resgate com volta para casa (a habitual missão cria padrões comentados comicamente pela boneca que não entende o porquê de os bonecos sempre pularem das janelas para salvar alguém. Durante a jornada do caubói, uma galeria de personagens desfila pela tela, como o garfo que não se vê como brinquedo e sim como lixo; uma boneca eu busca um sistema eletrônico para falar as frases gravadas; Betty e as ovelhas que se separaram dos amigos e passaram a ter uma vida diferente; e dois animais de pelúcia de um parque de diversões que buscam uma criança.
O percurso do xerife tem o mérito de expandir o universo da franquia, apresentando outros cenários com lógica própria e identidades visuais muito particulares. A parte estética é de se admirar, graças ao trabalho de design de produção que cria uma loja de antiguidades e um parque de diversões com cores quentes e saturadas, sem jamais esquecer nuances de coloração e repetir o que foi feito em um ambiente no outro. A loja possui um aspecto nostálgico, devido ao grande número de artigos do passado, e locais de iluminação forte (os diversos abajures no teto) e outros de ausência de luz (os corredores entre as prateleiras). Além disso, há um esforço diferenciado para construir sequências visualmente expressivas sem precedentes nos demais filmes através da fotografia, como a abertura sob uma noite chuvosa e a caminhada de Woody e Garfinho na estrada à noite.
Por outro lado, esse mesmo percurso também desencadeia alguns problemas causados pelo inchaço narrativo. O arco de Woody envolve muitas subtramas e conflitos dramáticos nem sempre costurados com eficiência ou com facilidade: o que torna um objeto um brinquedo; como as crianças lidam com seus brinquedos em momentos de insegurança; como brinquedos se sentem ao não ter a oportunidade de ficar com uma criança; qual a importância da voz gravada dentro dos bonecos (seriam uma voz interior para ajudá-los a decidir o que fazer?); quais são as opções para os bonecos quando não podem estar com uma criança. Tantas discussões levantadas em torno do caubói também retira dos outros personagens alguma função narrativa (Buzz parece que iria refletir sobre o sentido da “consciência” dentro de um brinquedo, mas esse elemento funciona apenas como alívio cômico) – eles, na realidade, apenas participam das sequências de ação interagindo de modo cômico com os humanos.
Em comparação aos anteriores, o quarto filme ainda promove melhorias na animação dos personagens. A textura dos brinquedos é mais realista, fazendo-os parecer seres vivos como qualquer humano permitindo que Josh Cooley possa fazer planos aproximados de seus rostos ou de outros enquadramentos capazes de evocar diferentes estados psicológicos e dramáticos, a depender da ocasião. Mas, ao final de suas qualidades e de algumas deficiências, “Toy story 4” volta a enfocar muito mais Woody e o fechamento do ciclo do caubói, dando a ele o propósito de ajudar outros brinquedos. Um desfecho que, por mais que não seja tão emocionante quanto o do terceiro filme, presta um tributo ao xerife predileto de Andy, Bonnie e do público.
Um resultado de todos os filmes que já viu.