“TAL PAI, TAL FILHA” – A presença de um pai ausente
Em TAL PAI, TAL FILHA, a protagonista Rachel (Kristen Bell) se coloca no espaço comum de muitas tramas hollywoodianas: da funcionária destaque que não sabe distinguir o trabalho da vida pessoal até o momento em que perde o controle de um desses aspectos. Por conta do extenso acervo de filmes que abordam essa temática, a parte em que o filme se dedica a explorar essa postura da personagem se agarra a um risco, o de tornar desgastante a experiência do filme, mas escapa ao focar em partes que envolvem os personagens Rachel e Harry como um conjunto. Isso quando Rachel chega ao período em que é colocada para lidar com dois dolorosos tipos de abandono, quando o pai, Harry, reaparece no casamento do qual está sendo abandonada, vinte e seis anos depois de a ter abandonado.
Harry, apesar de a narrativa tender a uma visão negativa, mostra-se um personagem muito simpático ao espectador e os possíveis julgamentos em relação ao personagem são direcionados a se limitar na protagonista. Ao tentar uma reaproximação com a filha, após muito tempo, os dois acabam presos em um cruzeiro, uma espécie de lua de mel buscando o perdão. Dessa forma, a história se desenvolve centrada no relacionamento dos dois personagens, sem utilizar flashbacks para situar o público, o que foge do que se espera. Porém, ao mesmo tempo um pequeno sentimento de falta se faz presente para uma compreensão mais acentuada.
Apesar de toda a história entre os dois personagens e os anos que os separam, os dois apresentam uma dinâmica familiar com um estranho entrosamento. Um jogo que explora o conhecimento de um sobre o outro e ironiza o vácuo que existe entre a vida dos dois, que terminam se conectando para o jogo de maneira arrojada. O roteiro, com uma ideia nada atípica, pode surpreender com pequenos diferenciais usando a relação entre pai e filha, mas acaba seguindo uma linha humorística genérica, enquanto o drama do enredo acaba ficando em segundo plano. Essa escolha do tom do filme poderia ser mais assertiva caso as piadas fossem de uma linha inovadora. A aptidão da narrativa para dramatizar é trabalhada de forma quase adormecida.
Os personagens não são bem desenvolvidos, o que resulta em atuações rasas, porém com Kristen Bell carregando grande parte do mérito que possa ser recebido. Novos plots integram uma tentativa de enriquecimento dos personagens, mas sem atingir profundidade. As figuras principais recaem na falta de envolvimento com a audiência, agravando ainda mais quando se observam as figuras secundárias que são mal introduzidas e possuem um rápido e curto espaço na tela – como também relevância no enredo.
A iluminação e a paleta de cores se destacam ao acompanhar as nuances que envolvem os sentimentos da personagem principal no decorrer do filme. Iniciando o longa com tons mais claros e cores quentes que vão se modificando pelo oposto, tons escuros e cores frias em cenários mais fechados, sempre remetendo ao estado emocional de Rachel em determinados pontos da trama. Ao abrir para recuperar uma luminosidade na fotografia, a película de Lauren Miller acompanha a melhora na relação pai e filha.
O enredo principal acaba sendo concluído de forma antecipada, não explorando o potencial da história que se molda a todo momento em previsibilidade. “Like father” (no original) coloca uma filha cometendo os mesmos erros que o pai e um processo familiar de perdão e vicissitude.
A paixão pela sétima arte é uma das partes que somam meu todo.