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“DYING – A ÚLTIMA SINFONIA” – A fragilidade das relações familiares

DYING – A ÚLTIMA SINFONIA é um mergulho cru e sincero nos complexos temas de abandono e desamor familiar, explorando a fragilidade das relações humanas diante da inevitabilidade da morte. Dividido em cinco capítulos, o filme desmistifica a visão idealizada da família e a apresenta como um ciclo natural, comparável ao das plantas e flores: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. O longa provoca profundas reflexões difíceis, confrontando o espectador com verdades dolorosas que ecoam na memória de qualquer um que já vivenciou ou testemunhou dinâmicas familiares complexas.

A trama segue uma família desestruturada e distante, composta por mãe, pai e dois filhos adultos, que se reencontram quando a iminência da morte exige que lidem com feridas e ressentimentos há muito guardados. Ao se depararem com o fim da vida de um dos membros, eles revisitam memórias e lidam com as consequências de anos de afastamento emocional. Cada personagem carrega suas próprias mágoas e lutas internas, refletindo a dificuldade de manter laços genuínos em um mundo onde a individualidade muitas vezes supera o coletivo.

(© Imovision / Divulgação)

Os diálogos, sempre carregados de sinceridade brutal, são um dos pontos fortes da narrativa. O filme não se esquiva de abordar pensamentos incômodos, aqueles que muitas vezes surgem nas relações familiares, mas raramente são verbalizados. Essa franqueza e autenticidade das interações obriga o público a confrontar emoções difíceis, como culpa, arrependimento e solidão. Lars Eidinger interpreta Tom Lunies com uma intensidade fria, dando vida a um personagem cuja frieza se torna uma defesa contra um sofrimento que ele não sabe ou não consegue expressar, tornando-o uma figura profundamente complexa. Corinna Harfouch, como Lissy Lunies, entrega uma atuação que equilibra resiliência e fragilidade, enquanto Lilith Stangenberg, no papel de Ellen, confere à personagem uma profundidade emocional que se revela ao longo da narrativa, marcada também por seu problema com o alcoolismo.

Matthias Glasner, que assina o roteiro e a direção, conduz a história com sensibilidade e firmeza. Sua abordagem evita sentimentalismos excessivos, preferindo uma estética que privilegia a honestidade e a simplicidade. A estrutura em capítulos reforça a sensação de que cada fase da história é uma etapa do ciclo da vida dos personagens, tornando o enredo mais imersivo. O diretor orquestra um equilíbrio cuidadoso entre momentos de tensão e introspecção, permitindo que o público se conecte com a trama em diferentes níveis. Além disso, ele surpreende ao inserir toques de humor em situações de puro desespero para os personagens. Esses momentos, que poderiam quebrar a imersão, funcionam perfeitamente no contexto da história, equilibrando o peso emocional e trazendo um contraste sutil que enriquece a experiência.

A trilha sonora é um dos elementos mais impactantes do filme, composta por músicas clássicas cuidadosamente selecionadas que amplificam a carga emocional das cenas e criam um impacto que transcende o diálogo. Um destaque especial é a orquestra regida por Tom Lunies, que não apenas enriquece a obra com sua performance, mas também atua como uma extensão das emoções do personagem. Essas sequências transformam cada apresentação em um espetáculo envolvente, em que cada nota ecoa os conflitos e as reconciliações que permeiam a trama. A sinergia entre ele e os músicos adiciona camadas de significado à narrativa, fazendo da música um verdadeiro fio condutor que conecta as emoções dos personagens às do público. O cuidado na execução de cada peça e na escolha das composições reforça a profundidade emocional da história, criando uma atmosfera poderosa e melancólica, em que a música guia o espectador pelos momentos mais intensos e reflexivos de forma inesquecível.

“Dying – a última sinfonia” não é apenas um filme sobre morte; é uma reflexão profunda sobre a vida, os laços que criamos, as rupturas que enfrentamos e a complexidade das relações humanas. Ao final, fica claro que o objetivo não é oferecer respostas fáceis ou confortar o espectador, mas sim provocar questionamentos sobre o que realmente significa ser família. É uma obra que, ao despojar as relações familiares de suas idealizações e encarar suas imperfeições, revela sua essência: imperfeita, humana e, por isso mesmo, profundamente real e tocante.