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“TODAS AS LONGAS NOITES” – A beleza da obra e a superficialidade da trama [48 MICSP]

O filme TODAS AS LONGAS NOITES busca abordar temas relevantes e sensíveis relacionados à saúde mental, mas acaba deixando de lado uma exploração mais profunda das experiências emocionais de seus protagonistas. A narrativa se limita a uma abordagem superficial, que não aprofunda as complexidades das condições de Misa e Takatoshi. Apesar das falhas, a obra apresenta elementos estéticos notáveis, como uma trilha sonora e uma fotografia belíssimas, que ajudam a criar uma atmosfera envolvente, mas não compensam as lacunas emocionais na trama.

A história gira em torno de Misa Fujisawa, uma jovem que, após se formar na faculdade, enfrenta dificuldades para se adaptar ao ambiente de trabalho devido à sua síndrome pré-menstrual, que afeta sua estabilidade emocional. Após deixar seu emprego, Misa encontra um novo lar profissional em uma pequena empresa, onde a compreensão por sua condição parece ser uma constante. Nesse novo espaço, ela conhece Takatoshi Yamazoe, um colega que também enfrenta um distúrbio psicológico: a síndrome do pânico. A relação entre os dois se desenvolve quando um incidente aparentemente trivial desencadeia uma explosão emocional em Misa, revelando as fragilidades que ambos enfrentam em suas vidas cotidianas.

(© Asmik Ace / Divulgação)

Dirigido por Shô Miyake, o longa foca nos desafios que Misa e Takatoshi encontram em suas lutas internas. Contudo, o filme falha em aprofundar essas questões, optando por uma abordagem que toca apenas a superfície dos problemas enfrentados pelos protagonistas. As atuações de Hokuto Matsumura e Mone Kamishiraishi, como Takatoshi e Misa, respectivamente, são regulares e cumprem suas funções, mas carecem da intensidade emocional que poderia tornar suas experiências mais impactantes. A química entre os dois é visível, mas o diretor não se compromete a explorar a profundidade de seu relacionamento, perdendo uma oportunidade significativa de enriquecer a narrativa.

A proposta de um filme que lida com distúrbios emocionais é extremamente pertinente nos dias de hoje, e o espectador entra em cena com a expectativa de que a obra vá além do entretenimento, oferecendo uma reflexão sobre as experiências de vida de pessoas com condições semelhantes. Entretanto, “Todas as longas noites” opta por manter um tom leve, o que, embora proporcione momentos de alívio cômico, resulta em uma análise rasa das questões que realmente importam.

Além das deficiências no roteiro, a produção se destaca em aspectos estéticos, especialmente na trilha sonora e na fotografia, que criam uma atmosfera atrativa e envolvente. A trilha sonora é excepcional, tanto para os diálogos quanto para os momentos que capturam as paisagens, complementando a narrativa de forma harmônica. A fotografia, sempre um ponto alto da obra, é digna de elogios, com composições visuais que realçam a beleza do cotidiano, proporcionando uma sensação de profundidade e introspecção. As imagens capturam tanto a fragilidade das emoções dos protagonistas quanto a sutileza dos cenários que os cercam.

No final, o filme se apresenta como uma obra que, apesar de suas boas intenções, não se aprofunda nas complexidades emocionais que tenta explorar. A dinâmica entre os protagonistas, que poderia servir como um alicerce para uma narrativa mais rica, acaba se perdendo em situações que não exploram adequadamente o impacto de suas condições na vida cotidiana. Assim, embora visualmente agradável e leve em sua abordagem, a obra deixa a impressão de que poderia ter oferecido uma reflexão mais profunda sobre os desafios da saúde mental e da solidão, resultando em uma experiência que, por mais que tente, não alcança o impacto desejado.

Filme assistido durante a cobertura da 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (São Paulo Int’l Film Festival).