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“BORDERLANDS: O DESTINO DO UNIVERSO ESTÁ EM JOGO” – Até você, Cate Blanchett?

Quando nem mesmo uma das melhores atrizes da sua geração faz um bom trabalho no filme, é natural concluir que tal filme é ruim. Bom seria se em BORDERLANDS: O DESTINO DO UNIVERSO ESTÁ EM JOGO o problema fosse unicamente com seu elenco estrelado. O star power não ofusca a evidente falta de qualidade.

Pandora é conhecido por ser um planeta anárquico e perigoso, onde, por outro lado, reside uma arca com tesouros inimagináveis. Lilith é uma caçadora de recompensas contratada por Atlas, um homem poderosíssimo, para resgatar sua filha sequestrada, Tina, que se encontra em Pandora. O que começa como uma missão de resgate de uma pessoa se torna a necessidade de salvar o universo.

(© Paris Filmes / Divulgação)

Tratando-se de um filme baseado em jogo de videogame, imagina-se que a preocupação de Eli Roth seria com a estética. A inferência não poderia ser mais equivocada: ainda que exista uma concepção de um universo, provavelmente extraída do material-base, ela não é inovadora, muito menos bem executada. A estética se assemelha à de “Guardiões da Galáxia”, mas certamente sem a personalidade que James Gunn conseguiu injetar em sua trilogia. É verdade que, imageticamente, há solidez na caracterização das personagens, como o penteado de Lilith denotando o seu perfil incandescente, o figurino de Roland traduzindo o seu traço militar e a maquiagem corporal de Krieg demonstrando o seu histórico de batalhas.

Nessa ótica, o design de produção não é dos piores. Entretanto, a execução dos efeitos VFX é decepcionante – novamente, cabe lembrar que isso deveria ser importante para um filme baseado em videogame -, uma vez que incapaz de atribuir textura à fotografia e de, quando aplicados, sair de tons pastéis. O chroma key é nada menos que pavoroso nas cenas de ação; a cena de perseguição entre rochedos deixaria George Miller abismado com tamanha inabilidade. Ainda na estética, o design sonoro pode não parecer tão ruim (quando o visual), mas a patente falta de criatividade corrobora o quão falho ele consegue ser.

Essa falta de criatividade está também presente no roteiro, escrito pelo diretor e por Joe Crombie. Roth parece recriar a Terra de “Wall-E”, incluindo uma versão própria de Wall-E (com a diferença que é capaz de falar e é muito menos carismático, apesar do empenho vocal de Jack Black), preenchendo a narrativa com os clichês mais óbvios possíveis: a criança da profecia; o MacGuffin capaz de salvar o universo; o “pit stop” em um bar; a cena em que a protagonista começa a expressar sua tristeza sozinha no terraço, até aparecer outra pessoa (momento em que ela finge normalidade); o uso do alívio cômico como distração no momento de ação; o sacrifício heroico de um integrante do grupo; e o final piromaníaco. O texto é bastante previsível mesmo na tentativa de plot twist, sendo ainda incapaz de criar camadas mais profundas para reflexão. Existe uma sugestão de crítica ao etarismo em duas falas – uma no início, outra no fim – da protagonista, mas certamente o tema não é problematizado.

Fica claro que “Borderlands” não se preocupa em costurar uma trama minimamente robusta, deixando elementos narrativos sem explicação e criando personagens estereotipadas. Nesse sentido, Krieg (Florian Munteanu) é o brutamontes que na verdade é dócil, Tannis (Jamie Lee Curtis) é a cientista racional (afinal, isso é essencial para qualquer cientista, não é mesmo?), Roland (Kevin Hart) é o soldado fiel (do contrário, não poderia ser um soldado, certo?), Lilith (Cate Blanchett) é a mercenária arrogante, Tina (Ariana Greenblatt) é a criança cuja traquinagem esconde um trauma e Claptrap (Black) é o alívio cômico (e só). De todas essas, Tina e Lilith são as mais relevantes, o que é prejudicial na medida em que as personagens são mal construídas, dificultando boas interpretações. Blanchett faz de Lilith uma mulher sarcástica, amarga e levemente blasé, algo extremamente tedioso. Greenblatt é extremamente forçada na maioria das vezes e é claramente incapaz, como Tina, de expor o drama da personagem (a tentativa de choro é vexatória).

Em meio a uma escatologia desnecessária – poderia ser coerente com a atmosfera, mas seria muito mais inteligente se fosse simbólica, na fotografia, e tivesse um significado mais profundo, ao invés da literalidade simplista -, Eli Roth apresenta um trabalho preguiçoso, como se percebe do uso, enquanto ferramenta facilitadora, de narração voice over nos minutos iniciais (abandonando-a em seguida), e da sequência elíptica das primeiras interações de Lilith em Pandora. Torna-se difícil encontrar uma virtude na obra, considerando que os aspectos mais singelos são mal executados: por exemplo, há uma cena de holograma em que, durante a mensagem gravada, o foco fica na fonte do holograma, em detrimento das personagens, um equívoco básico de decupagem. Talvez esperar uma boa decupagem fosse demais para um longa em que até mesmo Cate Blanchett decepciona.