“INGRESSO PARA O PARAÍSO” – Viaje para Bali
De acordo com o que é mostrado em INGRESSO PARA O PARAÍSO, Bali é um lugar maravilhoso – ou, como aponta o título, paradisíaco. O filme funcionaria bem como uma peça publicitária para aumentar a presença de turistas na ilha, mas não é sequer razoável como um longa comercial de ficção voltado ao grande público.
David e Georgia são divorciados há alguns anos, mantendo o laço apenas em relação à filha em comum, Lily. Quando Lily passa um período em Bali, ela se apaixona por Gede, um rapaz local, decidindo se casar com ele apesar dos poucos dias de convívio. Com a notícia, seus pais, preocupados, acreditam que ela terá um casamento malsucedido como o deles, então decidem mostrar que sua decisão é equivocada.
É com Julia Roberts e George Clooney no elenco que a produção tenta alavancar a sua credibilidade. A estrutura da sinopse, de uma comédia romântica padrão, justifica um pré-conceito de uma obra entediante por ser previsível. De fato, o que surge em tela já foi visto diversas outras vezes, não havendo aqui surpresa alguma. A questão é que Roberts e Clooney já participaram de projetos ruins, o que significa que o filme não tem credibilidade alguma – seja pelo elenco, seja pelo plot.
O defeito do longa não é exatamente o final previsível e o roteiro engessado assinado por Daniel Pipski junto ao também diretor OI Parker. A julgar pela (ainda curta) filmografia de Parker, a expectativa não poderia ser maior do que nula, basta recordar seu último trabalho, “Mamma mia! Lá vamos nós de novo” (clique aqui para ler a nossa crítica). Não à toa, no filme de 2018 havia a estrela Cher para tentar fisgar o público, no de 2022 os escolhidos foram Roberts e Clooney. Ou seja, há um padrão de má qualidade cinematográfica com tentativa de disfarce ao envolver grandes nomes. De todo modo, o defeito do longa é que o seu diferencial é o cenário.
O musical de 2018 tinha como diferencial justamente a sua estrutura de musical, que funciona independentemente da inconsistência narrativa. “Ingresso para o paraíso” não conta sequer com algo que pudesse disfarçar a extrema fragilidade do roteiro. A dupla principal representa obviedades que beiram a estupidez. Além disso, os diálogos, de uma pobreza vergonhosa, não conseguem ser engraçados. O lado cômico do filme se baseia em clichês sucessivos, como o humor de constrangimento em cena de dança e a personagem secundária alheia ao que a rodeia (mas que ainda assim não tem personalidade nem um arco narrativo próprio, apenas esquetes por ela protagonizadas). É o papel de Wren (Billie Lourd), distinto do de Paul (Lucas Bravo), que, por sua vez, age como um vassalo de Georgia (nada original) cujo humor é baseado na própria estupidez (outro clichê das comédias românticas).
Como mencionado, o erro de “Ingresso para o paraíso” não é propriamente no roteiro ruim ou na direção deplorável. O texto de Parker e Pipski não promete grandes surpresas porque é completamente incapaz de apresentá-las, não se dispondo a fazê-lo em momento algum. O máximo que Parker consegue em termos de linguagem cinematográfica é a montagem paralela dos minutos iniciais (um diálogo com diferentes personagens em locais distintos, mas ainda assim funcional, mais um clichê) e o uso de split screen para contrapor Georgia a David.A questão é: o que torna este filme diferente de concorrentes do gênero (comédia romântica)? Certamente ele não tem o humor variado de “Missão madrinha de casamento”, tampouco o charme quase clássico de “10 coisas que eu odeio em você”, a sagacidade psicológica de “O diário de Bridget Jones” ou mesmo a lógica reversa de “O casamento do meu melhor amigo” (protagonizado por Roberts, inclusive). Inúmeros outros poderiam ser citados e a questão não é que alguns deles são mais antigos (o último é de 1977), já que “Podres de ricos”, por exemplo, é de 2018. Entretanto, enquanto “Podres de ricos”, ciente das limitações criativas, abraça a exótica (para a ótica ocidental) Singapura como um diferencial, a Bali de “Ingresso para o paraíso” é meramente um cenário lindo, cujas peculiaridades são quase ignoradas. Melhor viajar para Bali e conhecer suas belezas do que assistir ao longa.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.