“7 DIAS EM ENTEBBE” – Um ótimo enredo que quase salva um longa enfadonho
Não são raros os exemplos de filmes que não abordam bem sua boa ideia. É esse o caso de 7 DIAS EM ENTEBBE, que tem um plot excelente, mas mal desenvolvido, resultando em um longa um pouco enfadonho, que quase se salva pelo ótimo enredo (e não pelos seus dotes artísticos).
Inspirado em eventos reais, o longa é baseado em um evento hoje conhecido como “Operação Entebbe”: em 1976, dois alemães ajudaram um grupo de palestinos a sequestrar um avião com destino a Paris e levá-lo para Entebbe (Uganda). Na África, o objetivo foi pressionar o governo israelita a libertar presos políticos palestinos, sob pena de matar os reféns.
José Padilha não faz o que poderia ser considerado um trabalho ruim, pois, dentre outros acertos, usa bem os movimentos de câmera (como o travelling no avião antes de o sequestro começar) e acertadamente utilizando vários planos longos. Há também uma metáfora em que é aberto um buraco em uma parede através de uma marreta, referência às agressões sofridas pelos reféns (que não se reduz à violência física) e uma inversão simbólica (colocando os israelenses como oprimidos e sem território).
Por outro lado, o pré-clímax é clichê (unindo música, dança, personagens isolados refletindo e militares israelenses treinando), enquanto o clímax tem uma música que funciona enquanto atrelada à narrativa (já que é boa e transmite a sensação de tensão), aliada a uma dança anticlimática. Isto é, a dança destoa da narrativa ortodoxa, não fazendo sentido tal devaneio artístico (ainda que esteja simbolizando os conflitos militares de Israel, obra criada por Ohad Naharin), especialmente por não ter função narrativa. Prevalece uma fotografia de tons pastéis, simbolizando o cansaço das personagens – a fotografia, aliás, é o que a película tem de melhor. Acidentalmente cômico, o filme tenta ser poliglota ao incluir alemão e francês (dentre outros idiomas), todavia a tentativa é completamente falha, tendo em vista que os israelenses conversam entre si em inglês.
O roteiro de “7 dias em Entebbe” começa equivocado ao buscar imparcialidade (nos primeiros minutos, expressa que os palestinos se intitulavam “guerreiros da liberdade”, enquanto os israelenses os taxavam como terroristas), tendo, ao final, uma mensagem retrógrada segundo a qual a solução dos conflitos da humanidade nunca está no diálogo, sendo inevitavelmente bélica (marca de Padilha também presente em “Tropa de elite”). Além disso, considerando que o script dá um enfoque bem maior no modus operandi dos envolvidos do que no exame do conflito, ele é raso.
Outro problema grave recai na montagem, que não dá conta de tantos núcleos e tantas narrativas concomitantes, amplificando a irregularidade do longa. Porém, há que se reconhecer que, no fundo, a falha reside no roteiro. Na diegese, há o pretérito dos alemães na sua terra, os acontecimentos em Entebbe, a movimentação em Israel e o destaque absurdamente inútil (do ponto de vista narrativo) de um militar (que protagoniza um subplot irritantemente desconexo à trama). Personagens são mal aproveitadas, fazendo participações en passant que pouco ou nada colaboram no plot (o francês era espião? Quem era seu amigo judeu? Qual a nacionalidade da freira? Quais eram os termos do acordo dos palestinos com Idi Amin Dada?).
Embora os alemães tenham proeminência, são mais interessantes em razão da atuação que graças ao texto. O barbudo (caracterização diferente da costumeira) Daniel Brühl faz de Böse um “revolucionário louco”, porém é no seu senso humanitário que a personagem revela um pouco mais de si. Rosamund Pike também tem uma caracterização distinta da usual, usando óculos, com cabelo castanho e sem maquiagem, ficando apagada e menos glamourosa que em outras produções. A atriz vive uma revolucionária alemã que parece perdida e insegura, mas que tem seu “piloto automático” quando a situação fica mais tensa. O contraponto dos dois é Juan Pablo (Juan Pablo Raba), bem mais parcimonioso. Nonso Anozie parece se divertir como o “Conquistador do Império Britânico” Idi Amin Dada, atuando bem, mas não tão bem quanto Forest Whitaker (em “O último rei da Escócia”). Eddie Marsan é desperdiçado como uma personagem unidimensional e monótona.
A ausência de protagonismo humano (um olhar parcial intradiegético, como um narrador-personagem) faz de “7 dias em Entebbe” um filme de José Padilha que nem parece ter sido dirigido pelo cineasta ante a inexistência dessa sua marca. Quem sabe apareça algum documentário mais digno sobre o impactante evento histórico.
Desde criança, era fascinado pela sétima arte e sonhava em ser escritor. Demorou, mas descobriu a possibilidade de unir o fascínio ao sonho.